Em reportagem de hoje, 05/04, o jornal “Extra” (extra.globo.com) apresentou matéria sobre os trabalhadores de serviços considerados como essenciais, portanto, que não podem ser interrompidos durante a quarentena estabelecida nos estados e municípios por causa do risco de contaminação pelo coronavírus. O problema é que, ao invés de mostrar a realidade desses trabalhadores, a falta de materiais e condições que os permitam se proteger adequadamente de uma possível exposição à contaminação no ambiente de trabalhado e durante seu deslocamento usando transporte público, que mesmo com a diminuição na circulação de pessoas conseguiu ficar ainda mais precário do que antes, a matéria procura apresentar uma cínica glamourização da situação deles, buscando exemplos isolados e explorando seus sentimentos de solidariedade cívica.
Entre esses serviços estão aqueles ligados a toda cadeia de abastecimento alimentar e farmacêutico dos centros urbanos: supermercados, farmácias, transportadoras, distribuidoras e produtores; frentistas; técnicos das áreas de energia e saneamento; entregadores de gás; coletores de resíduos; transporte público; correios e demais serviços de entrega etc.
Para engrossar essa lista, setores da burguesia trataram de conseguir incluir nela serviços que, normalmente, não seriam considerados como “essenciais”, como é o caso da construção civil, do telemarketing e até de mineradoras.
O fato é que uma verdadeira legião de trabalhadores continuam diariamente nas ruas, indo e vindo para seus postos de trabalho, enquanto apenas uma parcela da população consegue efetivamente cumprir as quarentenas tão defendidas por setores das classes médias e alta, com exceção, naturalmente, de bolsonaristas que desejariam muito ver seus negócios a pleno vapor à custa da exposição de seus funcionários à contaminação, como é o caso dos proprietários da Havan, Madero e Girafas.
Essa é mais uma enorme contradição do capitalismo que a crise do coronavírus trás à tona. Ao mesmo tempo em que as classes privilegiadas fazem enorme campanha pelo isolamento social, inclusive setores da esquerda pequena burguesa que não conseguem reconhecer o enorme abismo que existe entre a sua própria realidade e a realidade das classes populares, os trabalhadores pobres, simplesmente não podem deixar de trabalhar para não perder seu próprio sustento e de sua família ou, apesar de reconhecer a necessidade da quarentena nesse momento, precisaria voltar a trabalhar para poder pagar suas contas e para não morrer de fome.