A saída dos médicos cubanos será responsável por um silencioso banho de sangue nos próximos 10 anos no Brasil. Cerca de 37 mil crianças de até cinco anos, filhos dos trabalhadores outrora beneficiados pelo programa, morrerão. A informação é fruto de um estudo realizado pela Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), representada no Brasil pelo coordenador do Mais Médicos, Gabriel Vivas. Tomou-se como base indicadores verificados desde 2013. O levantamento foi realizado em 2017, portanto no período pós-golpe, mas antes da eleição fraudulenta que levará a extrema direita ao poder em 2019.
O acordo internacional que deu origem ao Mais Médicos não aconteceu por um mero capricho do governo da presidenta Dilma Rousseff, derrubada em 2016. A vinda de médicos cubanos foi uma medida – importante, mas paliativa, há que se dizer – para salvar vidas no interior do país sem ter que arcar com o ônus de uma revolução absoluta em toda a estrutura das faculdades públicas de medicina do país.
Contudo, a ausência de lógica do neoliberalismo faz pouca distinção entre matar uma árvore, gado, um rio ou um trabalhador. É um arco reflexo auto-defensivo e predatório do capitalismo que não se importa em manter a saúde, e nem mesmo a vida, da classe que produz todas as riquezas.
Durante os quatro anos em que esteve em campanha presidencial, Bolsonaro maldisse de todas as formas possíveis os médicos cubanos que trabalhavam no Brasil. Chegou a relativizar suas qualificações, chamando-os de “médicos” (entre aspas). De certo que sabia que, um povo honrado como o cubano, forte o suficiente para abaixa a cabeça nem diante da maior potência imperial do mundo, jamais admitiria deixar à mercê das incertezas políticas seus nacionais, trabalhando em um país tomado por facções direitistas.
A destruição que Bolsonaro provoca na saúde nacional mesmo antes da sua provável subida ao poder, somada àquela que ele vem prometendo implementar desde o período pré-eleitoral (com medidas que destroem o SUS) são a prova de que ainda há muito o que se perder com a permanência do estado de exceção e do golpe.