O Oscar de 2019, entregue neste domingo, 24/02, foi marcado por um recorde de prêmios para negros (7) e mulheres (15). A marca superou a de 2016, quando cinco negros levaram prêmios e 2007 e 2015, quando 12 prêmios (em cada ano) foram para mulheres.
Um dos destaques foi Mahershala Ali (“Green Book”), que se tornou o segundo ator negro a conquistar dois Oscars, alcançando a marca de Denzel Washington, que venceu como melhor ator em “Dia De Treinamento” e melhor ator coadjuvante por “Tempo De Glória”.
A vitória de “Green Book – O Guia” é um contraponto direto ao filme bem cotado, “Infiltrado na Klan”, de Spike Lee. Enquanto este último conta uma história real da luta contra a Klu Klux Klan na década de 70 nos EUA, fazendo uma conexão direta com o crescimento da extrema-direita nos dias de hoje, “Green Book” embarca numa história real, porém para apresentar a ilusão de que brancos e negros podem se entender de maneira pacífica, no regime de opressão capitalista, através do diálogo e da troca de conhecimentos e experiências individuais (que no filme ocorrem entre um motorista branco racista e um pianista negro intelectual – que não se encaixa no padrão de negro estadunidense). “Green Book” é o filme ideal para fazer “média” com os negros de maneira a não incitar os ânimos e deixar tudo como está.
Portanto, premiar “Green Book” ofusca os olhares aos outros filmes, tira do radar do espectador de cinema assuntos espinhosos como os tratados no filme de Spike Lee, que ganhou de consolação o prêmio de melhor roteiro. Este resultado é mais uma mostra de como funciona a demagogia da burguesia em relação aos oprimidos: O Oscar celebra a demagogia da conciliação e segue sendo a festa de brancos em que só entra o negro conciliador e comportado.