Nesta quinta-feira (13), a partir das 19h, o professor e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Évson Malaquias, lançará o livro “Cajá está sendo torturado e você vai à aula”?. O evento, que será transmitido pela internet, contará com um debate entre o autor da obra e Edval Cajá, militante pernambucano preso e torturado durante a ditadura militar.
Cajá foi sequestrado pela ditadura no dia 12 de maio de 1978. Na época, estava cursando Ciências Sociais na UFPE, participando ativamente do movimento estudantil, e foi enquadrado na famigerada Lei de Segurança Nacional. Como temos relatado sistematicamente neste diário, a Lei de Segurança Nacional tem sido retomada pelo regime político para perseguir cada vez mais a esquerda. Até mesmo o direitista Gilmar Mendes, por entrar em conflito com os interesses do imperialismo, foi ameaçado de ser enquadrado na lei.
A prisão de Cajá aconteceu já no último ano do governo Geisel, quando a ditadura militar já estava bastante desgastada pelas mobilizações contra o regime. Apontado pela burguesia como membro de uma ala mais “moderada”, Geisel, na verdade, participou diretamente do processo de perseguição e tortura de militantes durante a ditadura. Documentos revelados em 2018 comprovam, inclusive, que o general autorizou a execução de inimigos políticos. A chamada “abertura política” durante o seu governo não correspondia a um maior espírito democrático, mas sim a uma necessidade da burguesia diante das tendências revolucionárias do movimento operário. O governo Geisel e as capitulações da esquerda pequeno-burguesa à época foram determinantes, inclusive, para que não houvesse uma derrubada violenta da ditadura, mas sim uma transição sem qualquer punição para os generais.
Nesse cenário, a prisão de Cajá deu lugar à mobilização da esquerda pernambucana, alcançando repercussão nacional. Diante da pressão popular, o regime cessou as torturas no terceiro dia. Cajá seria solto e preso novamente após as eleições de 1978. O militante só ganhou plenamente a liberdade no dia 1º de junho de 1979. Até hoje, Cajá permanece como um dos principais quadros do Partido Comunista Revolucionário (PCR).
Para escrever a obra, Évson Malaquias se debruçou sobre fontes institucionais do Arquivo Público Estadual Jordão Emereciano e do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. No Arquivo Público Estadual, foram coletadas matérias acerca de prisão de Cajá nos jornais Diário de Pernambuco, de maio a julho de 1978. No Arquivo Público Estadual Jordão Emereciano, no setor DOPS, foram feitas fotografia dos documentos oriundos das Secretarias de Segurança Pública (como as Secretarias Auxiliares). Por fim, no Arquivo Nacional, foram coletados documentos confidenciais, oriundos dos órgãos do SNI, do Exército, do DPF (Departamento da Polícia Federal), da Marinha etc.
Segundo Évson Malaquias, em declaração dada a este diário,
O livro é decorrente de uma pesquisa sobre como os órgãos de repressão — ou, como eles [os fascistas] chamam, os ‘órgãos de informação’ — representam, classificam, rotulam os docentes da UFPE. No processo da pesquisa, que já estamos pegando vários reitorados, desde o golpe até Paulo Maciel, que é o período da prisão de Cajá, nós percebemos, descobrimos, vários documentos referentes a Cajá. (…) Nós fazemos uma crítica documental, pois os documentos não revelam a verdade, apenas revelam uma concepção de poder discricionário, pois são documentos da repressão e, portanto, rótulos e classificações são muito comuns nesses documentos. (…) Por tabela, pegamos o Diário de Pernambuco, que acompanha o período da prisão, e acusa Cajá e o PCR de serem “comunistas”. Praticamente, a única acusação é de ele ser um comunista. (…) Inventaram uma história de que ele estava com explosivos, mas os documentos da repressão não mencionam a existência de explosivos. Aparece apenas na imprensa para justificar a prisão dele.
O debate será transmitido pela página do Instagram de Évson Malaquias: @evsonmalaquiasdemoraes.