A inédita exclusividade da Globo para os direitos de transmissão da Eurocopa no Brasil intensificou uma campanha que nunca tem trégua contra o futebol nacional e em favor do futebol europeu. A histeria contra a realização da Copa América foi um aperitivo para o que veio logo depois. Aliás, diga-se de passagem, ao contrário da competição entre seleções sul-americanas, os jogos na Europa contam com torcidas dentro dos estádios.
O poder de alcance da principal empresa do monopólio das comunicações no Brasil pode ser medido pela apaixonada defesa da “qualidade” do futebol “europeu”, que vem sempre acompanhada de ataques contra o futebol jogado na América do Sul e, em especial, o futebol brasileiro. Para falar mal do nosso futebol, jornalistas direitistas e esquerdistas dão as mãos. Cronistas esportivos da esquerda e da direita, depois da histeria contra a “Cova América”, não se cansam de babar pela Eurocopa.
A mesma turma que adora passar pano para os treinadores estrangeiros nos clubes, agora embarca em peso na empreitada da Globo. José Trajano, por exemplo, sem nenhum pudor chegou a afirmar que “a Eurocopa faz a Copa América parecer menor do que já é” e que “as emissoras” que transmitem a competição não têm “audiência nenhuma”. A conclusão que podemos tirar de tal afirmação é a de que boa mesmo é a rede Globo.
Para dar o tom da cobertura monopolista na imprensa, esses jornalistas recortam os melhores momentos da fase de mata-mata da competição europeia para comparar com a fase de grupos da Copa América. Aí não precisa comentar sobre seleções como País de Gales ou Macedônia do Norte. Existe uma disputa de mercado em andamento e essa enxurrada de críticas à Copa América pretende privilegiar a empresa mais forte do consórcio monopolista da imprensa, que é a Globo.
Dois pesos e duas medidas
É importante assinalar que uma característica muito criticada na Seleção Brasileira, a intensa preocupação defensiva, é mérito dessa mesma imprensa, que há décadas critica violentamente quando o Brasil sofre gols e elogia desavergonhadamente uma suposta superioridade tática dos europeus. Essa pressão teve impactos no trabalho desenvolvido na seleção e também nos clubes brasileiros. Hoje, cinicamente, querem dribles, e jogos abertos, com muitos gols.
A diferença no tratamento aos nossos jogadores em relação aos estrangeiros é bastante similar com o que ocorre em relação aos treinadores. Neymar pode fazer chover e mesmo assim será alvo de críticas. Juca Kfouri chegou ao extremo de criticar o choro do atleta após um desempenho extraordinário em campo.
Por outro lado, para levantar o moral do “menino de ouro” da seleção francesa, que não marcou um gol sequer na competição e ainda perdeu o pênalti que desclassificou seu time, Trajano chegou a evocar jogadores como Zico e Baggio para passar um pano para o fiasco que foi o desempenho de Mbappé na Eurocopa.
Enquanto os cães ladram, o povo segue torcendo pela Seleção Brasileira, que não é da CBF, é nossa.