Em mais um sinal emblemático de que estamos diante de uma crise com forte tendência a se tornar a maior do sistema capitalista, o Senado dos Estados Unidos aprovou por unanimidade nesta quinta-feira, 26 de março, o pacote de socorro governamental à crise impulsionada pelo Covid-19 destinada a salvar os capitalistas em US$2,2 trilhões, valor que supera o PIB do Brasil (medido em 2019) em cerca de 340 bilhões de dólares. Mesmo descontado a inflação, a cifra equivale a praticamente o dobro do pacote de salvação aprovado na crise de 2008 (850 bilhões de dólares à época), que por sua vez, já tinha dispensado muito mais dinheiro público do que os gastos infligidos pelo New Deal para superar a crise de 1929 (cerca 55 bilhões de dólares, equivalente a US$767,28 bilhões com a inflação). No mesmo dia, foi anunciado que o pedido de inscrições aos programas de auxílio desemprego nos EUA saltou de 282 mil para 3,28 milhões de trabalhadores num intervalo de uma semana. O número de inscrições é o maior da série histórica, desde que estatísticas a respeito começaram a ser produzidas em 1967, e também supera em 1 milhão a expectativa dos analistas do mercado. O recorde anterior tinha sido registrado em 1982, com 695 mil inscrições.
A primeira coisa a ser destacada no pacote é que desse montante, o auxílio aos trabalhadores e a população americana de conjunto fica com US$300 bilhões, o auxílio-desemprego (que já seria pago de qualquer forma) levará US$250 bilhões, totalizando US$550 bilhões. Temos ainda US$150 bilhões para estados e municípios e o resto dos US$1,5 trilhão vai para empresas, uma situação que expõe de maneira flagrante um conflito distributivo que é próprio da luta de classes e mais, é ilustrativo da incapacidade cada vez maior do capitalismo funcionar sem o dinheiro de impostos pagos pela população, que em todos os países é majoritariamente trabalhadora e não capitalista.
O anúncio animou bolsas de valores no mundo inteiro, e apesar da bolsa americana ainda operar com prejuízo de -12,98% no acumulado do mês, a menos que algo muito anormal (o que não pode ser descartado de tudo) aconteça, o resultado da semana deve fechar positivo pela primeira vez desde o começo da crise que começou em fins de fevereiro mas isso está longe de significar o fim da mesma. Isso porque, embora a iniciativa de auxiliar os trabalhadores seja sempre positiva, isso nem de longe resolve o problema estrutural que produz um número de desempregados em franco crescimento, como o recorde das inscrições ao auxílio-desemprego demonstram, a produção industrial, que já apresentava tendência de queda, deve piorar com a paralisia que levou um terço dos americanos ao isolamento, além de fenômenos como o chamado “apocalipse varejista” que vem produzindo sucessivos recordes anuais de fechamento de lojas.
Ainda, a injeção de liquidez feita pelo governo numa economia onde o endividamento supera o PIB em mais de 100%, estímulos de 2 trilhões de dólares não são mais do que paliativos momentâneos, como a crise de 2008 demonstra. É preciso uma saída à crise que implique em trazer de volta os empregos e a capacidade industrial da economia, mas para isso, o impasse causado pela ação da burguesia decadente precisa ser resolvido com a derrubada dessa classe e a ascensão da classe trabalhadora.