Na última sexta-feira (15), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), principal entidade representativa dos estudantes da Educação Básica, organizaram um protesto virtual contra a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A atividade consistiu na divulgação da palavra de ordem #AdiaEnem por meio das redes sociais.
O exame enquanto vestibular
O Enem foi criado em 1998, ainda durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Na época, o principal objetivo do exame seria o de permitir ao governo federal coletar dados sobre o aprendizado dos alunos do Ensino Médio em cada instituição de ensino, em cada estado do País. A partir de 2009, contudo, sob a gestão do então ministro da Educação Fernando Haddad, o Enem começou a ser empregado como um teste para unificar o ingresso nas universidades de todo o país. A iniciativa foi adotada progressivamente e hoje, a grande maioria das universidades brasileiras selecionam seus discentes por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que tem o Enem como teste.
A política do governo Bolsonaro
Com o papel que o Enem hoje ocupa, ele passou a ser alvo de preocupação de milhões de jovens. Afinal, para conseguir uma vaga na universidade, é necessário prestar o exame. Por isso, qualquer alteração, qualquer mudança que aconteça no Enem, gera uma enorme repercussão no meio de toda a juventude.
No momento, em que o coronavírus se espalha em todo o planeta — os dados oficiais já dão conta de que pelo menos 4,5 milhões de pessoas foram infectadas —, o governo Bolsonaro, notório inimigo do povo, da educação pública e de toda a juventude, definiu uma política criminosa para o Enem: decidiu manter o calendário regular do exame, ignorando completamente o fato de que, daqui até o fim do ano, provavelmente, o coronavírus ainda não terá sido erradicado do Brasil.
Uma segregação ainda mais profunda
O Enem, embora seja controlado por um órgão do Estado, não deixa de ser um tipo de vestibular. Isto é, uma seleção, um filtro que permite uma minoria ingressar no Ensino Superior, enquanto uma maioria é excluída da possibilidade de continuar os seus estudos. Esse filtro, como todos os que são aplicados na sociedade capitalista, é um filtro de classe: são admitidos os filhos da burguesia, que têm mais tempo de estudar porque estão libertados de uma série de obrigações e que podem estudar em melhores escolas porque têm dinheiro para pagar por suas mensalidades, enquanto os filhos da classe trabalhadora são empurrados para continuar seguindo a tradição de miséria à qual toda a sua família foi destinada.
Com a medida do governo ilegítimo, a tendência é que essas contradições se acentuem ainda mais. Com a pandemia, os filhos da burguesia, de uma maneira geral, estão podendo continuar os seus estudos. Apesar de todas as limitações do chamado Ensino a Distância (EaD), fato é que ter aulas por meio de computadores, realizar pesquisas por meio da internet e continuar seus estudos são tarefas de fácil execução para as classes dominantes. No entanto, para a classe operária, que não tem internet nem computadores e que, acima de tudo, está exposta à falta de saneamento básico em suas casas, à violência policial e a todo tipo de pressão econômica, estudar não é a prioridade neste momento. Assim, manter a data do Enem dificultará ainda mais o acesso da população pobre às universidades.
Adiar o Enem na marra
Nesse sentido, e considerando a desorientação promovida pela falta de política, pedir o adiamento do exame acaba sendo uma medida correta. Contudo, para que os protestos sejam efetivos, é preciso que saiam das redes sociais: é preciso mobilizar os estudantes para que se manifestem nas ruas. As manifestações, além de ganharem às ruas, devem se somar a todas as manifestações contra o regime político no momento, de modo a impor uma estrondosa derrota à direita, derrubando o governo Bolsonaro e exigindo não só o adiamento do Enem, como o fim do vestibular.