Nesta última semana, a juventude paulista se chocou com um dos acontecimentos mais bizarros deste ano. Como se estivéssemos em meio a um filme distópico, em plena pandemia, a reitoria da USP permitiu que fosse realizado, na Raia Olímpica, um mega-evento multimilionário direcionado para o setor mais condizente com o propósito da instituição de ensino: a burguesia.
O evento em questão é o chamado São Paulo Boat Show (SPBS), uma feira realizada anualmente pela classe alta paulista visando a promoção do mercado relacionado à venda de barcos e carros de luxo, iates e, até mesmo, helicópteros. Para se ter uma noção, a SPBS contou com a exposição de mais de 70 embarcações de luxo, com valores que variavam de R$45.000 até R$3.400.000.
Como de se esperar, os estudantes da USP e, acima deles, os moradores do Conjunto Residencial da USP (Crusp) encontraram uma série de problemas relacionadas à realização do evento em meio à Cidade Universitária. Uma série de denúncias foram feitas acerca das condições que o Crusp apresenta, algo que entra em direta contradição com um evento milionário sendo realizado no universidade. Afinal de contas, enquanto as moradias universitárias possuem problemas desde estruturais, com paredes mofadas, cozinhas e lavanderias sem equipamentos ou manutenção e falta de internet; até problemas fundamentais, como falta de água, luz e alimentação adequada; a universidade pública se preocupa em sediar o evento, colocando como desculpa a exposição e a renda que essa situação geraria.
Frente à toda essa balbúrdia, os estudantes se mobilizaram e realizaram uma série de manifestações na localidade do evento. Em um primeiro momento, se reuniram na entrada do evento, na Raia Olímpica, depois seguindo em direção ao bandejão. Todavia, por volta das 15h, um dos participantes do evento agrediu uma manifestante, algo que, obviamente, foi respondido pela polícia militar por meio da repressão do ato organizado pelos moradores do Crusp. O episódio foi violento, com denúncias de spray de pimenta na cara dos estudantes, agressão contra os companheiros e desmobilização generalizada resultante da própria repressão. Entretanto, após breve pausa, a manifestação teve continuação.
Finalmente, a ação dos companheiros frente ao descaso da universidade com os estudantes é, apesar de confusa, com um movimento descentralizado, verdadeiramente combativa. Todavia, a luta da juventude deve ser levada até o fim e, no caso da USP, isso se dá por meio da expulsão da PM fascista do próprio campus, uma vez que possui uma delegacia no interior da universidade. Ou seja, a ação da polícia é, nesse sentido, extremamente facilitada e, imprescindivelmente, precisa ser combatida pelo próprio movimento estudantil. Caso contrário, a juventude continuará sofrendo pela ação repressiva do Estado que visa esmagar qualquer possibilidade de organização efetiva por parte do movimento estudantil.