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Revolta estudantil

Estudantes da USP fazem ato contra a destruição do Crusp

O São Paulo Boat Show 2020 realizado na USP escancarou a desigualdade na universidade e revoltou os moradores do Crusp, que estão com falta de água, luz e comida

A universidade pública está sendo desmontada com o avanço do ensino remoto. O genocídio de milhares de estudantes se consolida com a volta às aulas. Milhões de jovens estão no desemprego e na miséria. Nesse contexto, finalmente, o Diretório Central dos Estudantes Livre da USP, principal centro da política estudantil do País, convocou os estudantes para um ato presencial. 

Contraditoriamente, o ato foi convocado para protestar contra a realização de uma festa particular na universidade – sob a palavra de ordem “universidade pública não é playground de playboy!”, e não para organizar a luta contra os ataques da direita, por fora Doria, fora Bolsonaro e dos golpistas. Mas dada a efervescência e radicalização dos estudantes e, em especial, dos moradores do CRUSP que enfrentam uma tremenda destruição da moradia estudantil, a festa escancarou o sucateamento da residência estudantil frente à festa luxuosa, e a manifestação tomou um caráter mais combativo, e como de praxe, sofreu repressão violenta da polícia.

O São Paulo Boat Show 2020 aconteceu na raia olímpica do campus do Butantã. Trata-se de uma evento privado que foi autorizado pela reitoria da universidade, o que pode ser visto tanto como um afrouxamento da dita “quarentena” para impulsionar o retorno híbrido, como um “espetáculo empresarial” – como colocou o DCE – que reforça a desigualdade dentro da universidade e coloca em risco os funcionários e estudantes da USP que estão no campus, principalmente os moradores do CRUSP.

Para compreender o ocorrido, é preciso entrar mais profundamente na atual situação do Conjunto Residencial da USP. Uma pesquisa levantada por pesquisadores da USP revela que a maioria dos estudantes da residência sofrem de insegurança alimentar, muitos, inclusive, já passam fome. A pesquisa foi realizada por Daniel Vasconcelos, morador do CRUSP e estudante da universidade e por Tânia Araújo, ex-moradora do CRUSP e especialista em nutrição. O Crusp abriga em média 1.600 estudantes, mas durante a pandemia, 600 alunos ainda permanecem, e a pesquisa foi respondida por 84 pessoas, o equivalente a 24% dos alunos que atravessam a pandemia no Crusp. 

A universidade já não realiza a um bom tempo reformas estruturais nas moradias, e com a pandemia e o fechamento dos Restaurantes Universitários, a situação se tornou completamente desumana. Entre os dados, cerca de 25% dos moradores estão em situação de fome grave e ficam sem comer por um dia inteiro ou fazem apenas uma refeição. 

Quando a pessoa está passando fome, várias outras necessidades foram descumpridas. A fome é a última das necessidades”, como explicou Tatiana.

Além dessa conclusão nefasta, os estudantes sofrem também com infiltrações, cupins, falta de manutenção da fiação e constante risco de incêndio, um risco já conhecido no Crusp agora agravado pelas cozinhas comunitárias que não funcionam, assim obrigando os alunos a comprarem seus próprios fogões e alimentos.

As marmitas entregues são invariavelmente uma porção exagerada de arroz, quase nada de feijão e um acompanhamento. Raramente há qualquer tipo de salada, vale colocar também, que a opção para vegetarianos é sempre proteína de soja texturizada. A USP ignorou completamente o que foi colocado na pesquisa, e disse que “a empresa responsável pelo fornecimento de refeições prepara o café da manhã, o almoço e o jantar sob um controle de qualidade altíssimo”.

As nutricionistas são profissionais qualificadas e competentes, de modo que o cardápio é formulado e balanceado segundo critérios normativos rigorosos”, e “o controle de qualidade segue rigorosas normas vigentes”, afirmou. A instituição não respondeu, porém, sobre a falta de variedade e de hortaliças frescas reclamada pelos estudantes.

Os auxílios de internet para o acesso ao ensino remoto são meramente paliativos, nunca existiu internet no Crup, e insuficientes, como bem definiu um aluno. Alguns blocos, ainda ficaram sem água por semanas e outros nem têm energia elétrica. O quarto de um estudante, que reside no Crusp há dois anos e que prefere não se identificar, não tem luz.

A impressão que a gente tem é que, cada vez mais, a universidade não quer que essas pessoas estejam no Crusp. Talvez essa falta de manutenção seja para que os alunos não queiram ficar lá”, afirma Tânia. “Terminar uma graduação sem ter como preparar sua refeição é muito difícil.

Por isso, muito mais do que cancelar o festejo da pequena burguesia paulista, os estudantes querem condições dignas de vida e barrar a limpeza social promovida na USP, rumo a sua destruição enquanto universidade pública. Nesse sentido, já percebendo a combatividade dos estudantes revoltosos, os policiais responderam com gás lacrimogêneo, sprays de pimenta e bombas de efeito moral na manifestação do dia 23 de novembro. A partir daí, o DCE convocou um novo ato, desta vez com uma posição mais clara sobre a questão:

Não queremos um espetáculo empresarial na nossa Universidade, tampouco o risco de contaminação que a realização do evento apresenta aos estudantes e funcionários. Queremos cozinhas, lavanderias, condições dignas de moradia para os estudantes e de trabalho para os servidores!”

Entretanto, o DCE ainda não acredita na possibilidade de mudança real para os estudantes da USP e ou não compreende a necessidade de uma grande mobilização e organização estudantil, por isso agora se reteve e lançou uma nota de repúdio enviada denunciando a violência policial contra os estudantes cruspianos, o que não pode parar com os atos de rua e a organização da greve estudantil.

As direções do movimento estudantil estão fossilizadas e destruídas pela política vigarista do PCdoB e da UJS, em conluio com grande parte da esquerda pequeno burguesa. Entretanto, a paralisação promovida por esse setores é suicida. A efervescência e a radicalização política de toda juventude cresce exponencialmente no País e já não engole mais tal capitulação. 

Agora, cabe aos estudantes extrapolar as medidas burocráticas das suas entidades compradas e reconstruí-las pela base. É fundamental que toda a luta estudantil se alie a luta política fundamental e organize não apenas para reivindicações econômicas, as quais as reitorias bolsonaristas nunca cederam, e sim, para formar uma mobilização capaz de derrubar o regime golpista e genocida que impõe sua política neoliberal e destrói cada vez mais as organizações e os direitos democráticos do povo.

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