O documentário “Torre das Donzelas” estreou na quinta-feira(19). Dirigido por Susanna Lira, o filme conta a história de ativistas políticas presas durante a ditadura militar e tem como uma das protagonistas a ex-presidenta Dilma Rousseff. O título remete à ala feminina do presídio Tiradentes, criado na cidade de São Paulo durante a ditadura, que existiu entre 1969 e 1971.
Definido pela diretora como um convite à resistência, o documentário destaca o combate de muitas mulheres contra a ditadura. “A gente ouve falar sobre luta contra a ditadura muito de um ponto de vista masculino, dos grandes ícones. As mulheres sofreram um duplo preconceito; primeiro porque luta política não era lugar de mulher (inclusive no filme elas relatam que ouviam: ‘você aguenta, você é macho’). E segundo, que naquela época vivia-se uma revolução de costumes. Esse grupo de mulheres é muito especial porque estavam quebrando padrões e lutando pelo direito político de ser mulher plenamente”, afirmou Susanna em entrevista à rádio francesa RFI.
O processo de criação do filme durou sete anos. Durante este tempo, a cineasta optou por recriar o presídio a partir das lembranças e dos desenhos da ativistas presas. “Decidi reconstruir o espaço porque, quando entrevistava cada uma delas isoladamente, senti que a memória era algo que ainda precisava de um coletivo. Queria recuperar o que elas tinham vivido na Torre”, conta.
O filme “Torre das Donzelas” recebeu prêmios em Festivais de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília e teve uma boa recepção nos festivais internacionais. Sobre a exibição no Brasil, a diretora Susanna Lira destaca: “Espero que o público possa assistir. Quero que ele seja visto. Nesse momento em querem de novo apagar a memória, a gente quer trazer um pouco mais de verdade através do cinema e que o público possa refletir um pouco mais sobre nossa história”. Veja o trailer aqui.
As mulheres presas durante a ditadura
O filme “Torre das Donzelas” retrata apenas um fragmento do que foi a luta das mulheres durante a ditadura. Algumas delas, estavam organizadas em comunidades eclesiais de base, clube de mães, associações e movimentos por creches e contra o custo de vida. Outras, participavam de sindicatos, partidos, movimento estudantil e organizações clandestinas. Com o intuito de derrubar a ditadura, algumas delas pegaram em armas.
Além destas mulheres ativistas, a luta pelos direitos humanos e pela anistia foi iniciada por mulheres. Mães, filhas, irmãs e companheiras organizavam diferentes formas de luta com o intuito de procurar por seus pais, filhos, irmãos e maridos desaparecidos durante a ditadura.
Muitas destas mulheres foram presas, torturadas e assassinadas. O capítulo “Violência sexual, violência de gênero e violência contra as mulheres e crianças” do Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade detalha o modo cruel como estas mulheres foram tratadas nas prisões. A política de Estado da época utilizava da violência sexual como um método de tortura tanto física quanto psicológica. Os testemunhos destas mulheres evidenciam a humilhação sofrida, os abortos provocados, os estupros, e a tortura de familiares.