Em artigo publicado nesta quinta (26/03) em sua coluna no jornal O Globo, o jornalista Merval Pereira, comentou sobre a situação política do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro, afirmando que este se encontraria neste momento isolado. A “voz de deus” da Globo, como é conhecido por expressar a opinião dos mandatários do monopólio, apresenta João Dória como candidato apto a substituir Bolsonaro. Só que em 2022.
A “análise” apresentada por Merval é de que Bolsonaro estaria isolado, pois não contaria com apoio dos governadores, os quais desobedecem suas determinações quanto ao fim da quarentena, estaria sem diálogo com o congresso, considerando provavelmente os recentes atritos com Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre e ser alvo das críticas populares demonstradas nos panelaços ocorridos nos últimos dias. E que todo esse isolamento seria provocado pelas colocações de Bolsonaro ao colocar como prioridade os reflexos econômicos da crise e não a saúde, pois este estaria preocupado que isso deterioraria seu capital eleitoral.
Em contraposição ao “enfraquecido” Bolsonaro, Merval apresenta João Dória, governador de São Paulo, derramando uma cocheira de elogios, descrevendo-o como “…um líder diante da crise da Covid-19” e ainda “…está aproveitando o momento para demonstrar uma capacidade de gestão que o credencia a se apresentar como essa alternativa”. Colocações que claramente cravam o voto da Globo em Dória.
O teor do texto deixa claro em primeiro lugar que, a família Marinho, como representante da ala majoritária da burguesia nacional e de laços fraternais com o imperialismo, não se coloca na posição de derrubar ou substituir Jair Bolsonaro neste momento, mostra que “o horizonte de eventos” quanto as suas opções para o governo ainda é de longo prazo – considerando que um novo mandato presidencial ocorre em praticamente 3 anos – naturalmente distante da urgência da angústia popular. Segundo, mostra que a burguesia nacional começa a preparar o caminho para a substituição de Bolsonaro com outro carniceiro, fascista, João Dória, o conhecido Bolsodória.
Desde já é preciso que todos saibam muito bem quem é João Dória (PSDB), o governador que se elegeu com infame slogan “#BolsoDória”, que para incautos pode parecer uma simples jogada eleitoral, mas que é, na verdade, a palavra mais que adequada para descrevê-lo. Além da parceria com Jair Bolsonaro, isso inclui avalizar todas as atrocidades de campanha ditas por Bolsonaro, Dória aplicou a receita da extrema direita de forma impecável, desde seu período como prefeito da maior cidade do país, até o mandato como governador. Vamos aqui apresentar algumas “proezas” do Bolsodória:
– Instalou uma verdadeira ditadura ao colocar o choque pra reprimir qualquer tipo de protesto;
– Elogiou e inocentou PMs responsáveis pela chacina de Paraisópolis;
– Criou lei para suprimir o direito de livre manifestação;
– Censurou livros de programa de leitura para detentos;
– Cortou 1 bilhão do orçamento para a habitação popular;
– Extinguiu a empresa de combate a enchentes;
– Quer entregar de vez a Sabesp à especulação financeira;
– Quis acabar com a Previdência dos servidores;
– Acabou com as ciclovias;
– Tentou dar ração para crianças nas escolas;
– Demoliu prédio com gente dentro;
– Reprimiu e espalhou a Cracolândia por todo centro de São Paulo;
– Apagou painel de artista plástico mundialmente reconhecido;
– Fechou 149 linhas de ônibus;
– Cortou passe livre das crianças e jovens estudantes;
– Eletrocutou folião no carnaval, por fio exposto na rua;
– Tentou acabar com os cobradores de ônibus;
– Tentou colocar patrocínio nos uniformes escolares;
– Fechou a Casa do Choro;
– Deu banho de água fria em morador de rua em pleno inverno;
– Fechou o shopping 25 de Março, importante centro comercial;
– Entregou parques e praças para a “iniciativa” privada;
– Entregou o Pacaembu à “iniciativa” privada;
– Iniciou a privatização do Autódromo de Interlagos;
– Estabeleceu o “Bolsa Meganha” com metas para policiais aumentarem a repressão contra a população;
– Espancou e soltou cães nos professores que protestavam em defesa dos seus direitos;
– Queria rebatizar o Bom Retiro para “Little Seul”;
– Aumentou 55% das mortes de ciclistas;
– Iniciou a privatização da Zona Azul;
– Marcou crianças com tinta para não repetirem merenda;
– Usou fantasias idiotas para parecer trabalhador.
Não é tudo, mas já é uma extensa folha corrida, típica de um mandatário fascista e representante da burguesia vampiresca, que quer esfolar o trabalhador brasileiro cada vez mais, exatamente como é a figura de Jair Bolsonaro. A única diferença são as palavras usadas. Bolsonaro usa uma linguagem coloquial e violenta, se comporta de maneira xucra, grosseira. Já Dória, se apresenta de forma polida, engomadinho em seus ternos, querendo parecer o oposto de Bolsonaro, mas isso é só uma capa, um invólucro. “Por dentro” os dois trazem exatamente a mesma política fascista, entreguista do patrimônio nacional e que usa de forma irrestrita, o tão quanto puder, a supressão de liberdades individuais e direitos democráticos, sob forte violência policial, a serviço do grande capital estrangeiro.
Com estes dois funcionários, Dória e Bolsonaro, vemos que a burguesia pode estar disposta a abrir mão da peça no tabuleiro, no caso, substituir Bolsonaro de forma planejada – não neste momento, excluindo por exemplo a opção de um impeachment – mas não está abrindo mão de sua política de destruição do país ao escolher uma “nova peça” que viria para aplicar a mesma política, com mais fôlego somente.
Desta forma, somente uma intensa mobilização popular que abale as estruturas do golpe de Estado, pode fazer a direita retroceder, afastar a ingerência da burguesia imperialista e abrir o espectro político a uma atuação mais contundente das forças populares, mudança essa que permitiria um governo de características populares. Para isso é necessário levar à frente com todo o vigor a campanha Fora Bolsonaro, em confluência à toda insatisfação popular.