A economista Zeina Latif em entrevista ao jornal Estadão, diz que o governo Bolsonaro errou no tamanho do ajuste fiscal colocado em prática no início do ano. Foi menor que o necessário para manter a economia nos trilhos, e também não vê condições para que o ano termine sem estouro no teto de gastos.
O outro caminho para manter a economia estável seria a reforma estrutural, mas o presidente não tem aceitado essa medida proposta pelo Paulo Guedes, uma vez que depende do congresso a aprovação, e nesse sentido o congresso e o Bolsonaro não parecem dispostos a aceitar, já que envolve medidas impopulares.
Nesse impasse entre as alas de Bolsonaro e do Guedes, parece ser inevitável algum tipo de aumento na carga tributária, o que reduz a capacidade de crescimento da economia. A economista se coloca contra o aumento dos impostos pelo motivo exposto anteriormente.
E ainda reforça que o ambiente de dívida crescente e falta de comprometimento do governo gera um quadro de instabilidade macroeconômica, sendo necessário alguma flexibilização do teto de gastos. Também seria necessário que o presidente sinalizasse a intenção de manter o teto de gastos e fazer as reformas.
O que acontece de fato é que para manter a economia minimamente estável seriam necessárias reformas fiscais ou reformas administrativas além de investimentos estatais ou subsídios para a iniciativa privada.
E todas elas levam a prejuízo para a classe trabalhadora, portanto serão impopulares, aumentando a pressão dos trabalhadores sobre o governo. Afinal no sistema capitalista quem paga a conta são sempre os trabalhadores, e enquanto que os empresários são poupados.
Esse impasse tem colocado a burguesia em frontal choque entre si. A ala bolsonarista, congresso e governo, não quer medidas impopulares como a reforma estrutural, que leva a mais desemprego com efeitos mais imediatos. Optam assim por reforma fiscal.
A outra ala, de cunho mais fortemente neoliberal como o Guedes, faz pressão pelas reformas estruturais e cobra fortemente o governo para implantar de imediato essas medidas, colocando o risco iminente de romper o teto de gastos e com pedaladas fiscais para manter um pouco de estabilidade.
Como o Guedes é o representante oficial dos banqueiros imperialistas, a corda fica mais apertada para o presidente Bolsonaro, que tem que articular mais firmemente com o congresso, fazendo mais concessões a ele, e ficando preso na malha do legislativo.
Considerando que o imperialismo não pode abrir mão do fascismo, isso deixa o presidente com alguma folga em se manter no poder. A contradição no campo da burguesia deixa um flanco aberto para a intervenção da classe trabalhadora. Se ela conseguir aproveitar pode chegar a uma luta com possibilidade de sucesso, pondo abaixo de vez o regime capitalista imperialista.
Os trabalhadores têm mostrado disposição para a luta, como vemos nos crescentes movimentos sociais. É preciso que as lideranças sindicais e partidárias assumam a vanguarda da luta, pois a conciliação de classe só leva à derrota dos trabalhadores, impondo longo período de retrocesso e perdas.