Existe uma esquerda que pretende combater a direita competindo com a direita. O plano consiste em disputar com a extrema-direita seus símbolos. Assim, se a extrema-direita se apropriou da bandeira nacional e das camisas da seleção para protestar durante os coxinhatos, esses setores de esquerda buscam roubar “de volta” esses símbolos. É o caso, por exemplo, do novo presidente da UNE, Iago Montalvão, que aparece nos protestos enrolado na bandeira do Brasil, como se fosse o dono da Havan, e dá entrevistas vestindo a camisa da CBF.
ENTREVISTA: "Não queremos mais uma UNE clandestina, estudantes impedidos de se organizar, serem torturados e assassinados", afirma o goiano @uneoficial @iago_une https://t.co/XC3LDFTGF6
— Rede Brasil Atual (@redebrasilatual) August 9, 2019
O #tsunamidaeducação vai tomar conta do Brasil nesta terça-feira. Mobilize sua universidade, marque seus amigos. Precisamos voltar às ruas. A educação pede socorro e a universidade pública não merece esses ataques. #AmanhãÉRua #tsunami13A pic.twitter.com/mqVwngluHY
— Iago Montalvão (@iago_montalvao) August 12, 2019
O verde-amarelismo não se restringe à figura do presidente da entidade. A própria UNE, enquanto entidade, faz convocações como esta da imagem abaixo, com a bandeira do Brasil, para um ato dia 7 de setembro:
Depois do #Tsunami13Agosto vamos para o 7 de setembro! A luta continua, pelo Brasil! pic.twitter.com/Uvt6RNQFDJ
— Iago Montalvão (@iago_montalvao) August 14, 2019
Chamado que foi reproduzido, também, pelo PSOL, que reproduziu o chamado da UNE acrescentando o seguinte comentário: “Pra quem reclamava que não tinha protesto contra o governo de sábado e com verde e amarelo…”
Dia 7 de setembro as ruas do Brasil vão ser tomadas em defesa da educação novamente! Pra quem reclamava que não tinha protesto contra o governo de sábado e com verde e amarelo…
Confirme presença no evento: https://t.co/fATnHLYfPn pic.twitter.com/AwyWHRhxBT
— PSOL 50 (@psol50) August 18, 2019
Trata-se de uma capitulação diante da pressão da extrema-direita. Não se deve disputar os símbolos da direita, mas reafirmar os símbolos dos trabalhadores organizados para a luta política. Contra as camisas amarelas que os coxinhas usam, apesar de odiarem o país, os trabalhadores devem levar suas bandeiras vermelhas e ir para um embate com a direita em todos os aspectos.
Essa tentativa de se adaptar à direita é uma capitulação diante da campanha direitista “contra a polarização”. A direita deu um golpe de Estado e agora Bolsonaro ataca a cada semana algum direito fundamental dos trabalhadores ou alguma organização da luta popular. Diante desse novo marco do regime político, a esquerda deveria se conter evitar a “polarização”. Mas aceitar isso nesse caso seria aceitar um grande deslocamento à direita do regime e aceitar a nova situação imposta pela direita.
A partir daí, a tendência é a um fortalecimento da direita cada vez maior, e a um deslocamento do regime como um todo cada vez mais à direita. Por isso é necessário reagir à direita. E não competir com a direita se vestindo para os protestos como se fosse participar de um coxinhato.