As condições para uma um ampla mobilização da classe trabalhadora estão mais favoráveis do que nunca. A Lava-Jato, coluna vertebral do golpe, faz água por todos os lados; as contradições entre os diferentes setores golpistas produz a cada dia novas crises, a rejeição ao governo Bolsonaro é absoluta, mesmo considerando os índices manipulados dos institutos de pesquisas, em geral ligados à própria imprensa golpista; a economia do país caminha rapidamente rumo à argentinização; as universidade estão na iminência de paralisar por conta da falta de recursos; a saúde está um caos; a população pobre está sendo barbaramente reprimida e assassinada nos morros e periferias das grandes cidades; os sem-terras e índios, expulsos de suas terras e assassinados, enfim, não há um segmento da vida nacional, do ponto de vista das amplas massas, que não esteja absolutamente prejudicado pelo golpe.
Na contramão dessa situação, a esquerda de conjunto patina, vacila, não tem iniciativa política, e portanto acaba ficando a reboque da direita. Exemplos nesse sentido não faltam. Desde o impeachment da presidenta Dilma que a política da esquerda não se coloca do ponto de vista de enfrentar o golpe com os mecanismos próprios da luta da classe trabalhadora, ou seja, a luta independente, voltada para a mobilização efetiva das amplas massas contra o regime que se impôs pelo golpe de Estado.
Em essência, a política da esquerda é de defensiva, é de resistência. Parte do pressuposto que a direita tem um amplo apoio popular e que, portanto, caberia à esquerda uma luta miúda, por reivindicações parciais, que, por mais importantes que sejam, não produzem uma efetiva mobilização para combater o golpe.
A política miúda, defensiva, só tem um resultado, a desmoralização do movimento que quer lutar contra o governo e o golpe. O exemplo mais clássico foi justamente a reforma da Previdência. As grandes mobilizações de maio e junho passados foram as respostas quase que “espontânea” da evolução da polarização política do País. Embora o catalisador dessas mobilizações tenha sido o corte de verba das universidades e, também, a reforma da Previdência, era notório que as palavras de ordem mais gritadas nos atos eram justamente aquelas mais gerais da luta contra o golpe, no caso Fora Bolsonaro e Lula Livre.
Essa foi uma demonstração da evolução da consciência das massas nesses anos de golpe. Ao contrário de ser a vanguarda do movimento, a política da esquerda foi de retaguarda, por isso o movimento se esvaziou nas salas frias dos deputados e senadores no Congresso Nacional.
É justamente a passividade da esquerda, a falta de uma política de confronto, que permite que a direita mesmo diante de tamanha crise continue dona da situação. Manobre, como no caso da tentativa de impor o regime semiaberto para Lula. Mais grave, caso seja possível, expressam os setores que apostam nas eleições de 2020, 2022 como uma panaceia que vai resolver os males que afligem o povo e a própria esquerda. Essa é uma ilusão da esquerda que, se é nefasta para ela, é muito mais grave ainda para o povo. Não existe vazio em política, a crise da direita, pela falta de ação efetiva da esquerda, em algum momento vai se estabilizar. Caso o golpe se estabilize com Bolsonaro ou não, os golpistas não vão deixar de impor numa escala ainda muito maior a política bolsonarista, de extrema-direita, contra o povo e a própria esquerda.