Nos últimos dia 15 e 19/07 foram publicadas, no Portal Esquerda Online, as duas partes do artigo de Paulo César de Carvalho intitulado “Como chegamos à Era dos Bolsonauros?”
O autor inicia o texto com a seguinte ideia:
“…a eleição de Bolsonaro não foi obra do acaso, fruto circunstancial da vontade de um grupo político ou consequência pontual da ignorância dos eleitores: não se pode compreender a chegada da extrema-direita ao poder senão como resultado da própria decadência do capitalismo… Em síntese, eis o resumo da ópera política: a rejeição tanto dos partidos de direita tradicionais quanto do Partido dos Trabalhadores fez surgir como alternativa aos olhos fatigados do povo a figura grotesca do Messias ‘Salvador da Pátria’.”
Se por um lado a eleição de Bolsonaro não foi obra do acaso, nem ignorância dos eleitores, ela foi fruto da vontade de um grupo político – mais precisamente o setor da burguesia nacional representado por empresas como Havan, Centauro, Condor, entre centenas de outras. Na última hora largou a direita tradicional (representada principalmente pelo PSDB) e colocou majoritariamente suas fichas em Bolsonaro, abandonando as demais candidaturas da direita, que sem o apoio da burguesia tiveram uma votação residual (Alckmin, Meirelles, Marina, Álvaro Dias, etc).
A matéria continua dizendo que o que permitiu a desastrosa vitória da extrema-direita foi “a propaganda massiva da ‘Lava-Jato’ contra a esquerda, demonizada pela grande mídia golpista e pelas ‘fake news’ como ‘corrupta’, além de associada à ‘ditadura venezuelana’. Essa abordagem omite que os golpistas realizaram a maior fraude eleitoral da história ao condenar, prender e cassar Lula e colocar a extrema direita fascista no controle do processo eleitoral.
Neste cenário, segundo o autor, “a rejeição tanto dos partidos de direita tradicionais quanto do Partido dos Trabalhadores fez surgir como alternativa aos olhos fatigados do povo a figura grotesca do Messias ‘Salvador da Pátria’.” Lula liderou todas as pesquisas, mesmo dos institutos burgueses, do início ao fim, coisa que o próprio artigo cita. Lula era o único que poderia ganhar no 1º turno, porém, perdeu devido à rejeição do PT e não à fraude eleitoral dos golpistas que o condenaram, cassaram e prenderam-no? A ideia de atribuir a eleição de Bolsonaro à rejeição ao PT só serve para tentar legitimar o governo Bolsonaro com argumentos como “a culpa é do povo”, “o povo elegeu Bolsonaro”, etc.
O artigo continua com citações de textos de Henrique Canary, Valério Arcary, de pesquisas da OXFAM (Oxford Committee for Famine Relief – Comitê de Oxford de Combate à Fome), de relatórios da ONU (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO) e de textos de Trótski. Procura com isso comprovar o quanto o capitalismo é nefasto e assassino do povo, no entanto, tira conclusões distantes da realidade sobre as perspectivas de luta dos trabalhadores:
“Infelizmente, refletindo sobre todos esses profundos problemas, e tendo consciência de que o socialismo, como solução, se coloca num distante horizonte, parecendo hoje tão improvável, o mundo assiste em desespero à proximidade da barbárie. Para não dizer que não falamos das flores (com o perdão do trocadilho com a canção de protesto de Vandré), como bem sintetizou Rosa Luxemburgo, eis a dramática questão: ‘socialismo ou barbárie’.”
Se o socialismo “se coloca num distante horizonte e parece hoje tão improvável” restaria então apenas resistir à barbárie? Restaria opor-se ao governo Bolsonaro, mas sem chamar os trabalhadores a derrubá-lo imediatamente? As conclusões que o autor expressa no artigo evidenciam a falta de análise concreta da situação política do país e como ela leva à falta de uma política que mobilize os trabalhadores para a luta contra a burguesia golpista.