A esquerda pequeno-burguesa está seguindo à risca as determinações da burguesia. Diante do gigantesco fracasso do governo Bolsonaro, Valério Arcary, o profeta que negou a possibilidade de golpe em 2016, justifica a negativa do Fora Bolsonaro com a afirmação que um partido somente pode chamar a mobilização pela queda do governo quando as “ massas estiverem prontas”.
Os descalabros do governo Bolsonaro têm aumentado a revolta popular, mesmo Valério Arcary, com sua recusa dogmática do Fora Bolsonaro, tem sentido o bafo quente da insatisfação popular.
“Mas nas últimas duas semanas o governo teve duas derrotas claras. A repercussão desastrosa da descida da rampa no domingo dia 15M, e as declarações negacionistas catastróficas da gravidade da epidemia. Parecem ter sido qualitativas, porque foram o estopim, a fagulha, a centelha que incendiou um protesto que começou nos bairros de classe média, mas tende a se alastrar.”
Entretanto, a crise do governo Bolsonaro, ainda não permite usar a palavra de ordem do Fora Bolsonaro como uma ” consigna para a ação”,pois para Valério Arcary existe um ” atraso” entre a luta entre instituições, partidos e mídia e o conjunto das classes.
“Porque a luta política entre governo, instituições, organizações variadas de representação social, entre elas a mídia e, sobretudo, os movimentação dos partidos é mais acelerada. Politicamente, Bolsonaro se enfraqueceu. Essas mudanças irão incidir nas classes, mas com algum atraso porque a variável tempo tem sua importância.”
Na verdade, o atraso está na cabeça de Valério Arcary. No artigo Sobre a mudança da conjuntura, publicado no site da esquerdaonline, Valério Arcary, atual dirigente do PSOL, ex-PSTU apresenta a estranha noção para uma pessoa que se reivindica marxista, que o partido não deve indicar a política a ser adotada em uma determinada conjuntura, mas pelo contrário, a tarefa do partido, segundo a visão arcaryana, não deve ser de vanguarda, mas sim de uma retaguarda.
Assim, de acordo com Arcary
“Existe uma “régua” para decidir se levantamos a palavra de ordem de Abaixo o governo, ou seja, Fora Bolsonaro, para a agitação. O critério que herdamos dos clássicos é se já está maduro na consciência da maioria da classe. Não é necessário que a classe já tenha disposição de sair para as ruas para tentar derrubar agora e já o governo. É diferente de uma consigna para a ação.”
Uma das mais importantes definições da luta política para o marxismo é a necessidade de uma organização própria independente dos trabalhadores, que atue como uma vanguarda política, ou seja se antecipe e coloque os interesses políticos dos explorados.
Seguir a média social e esperar a “ maturidade” das massas como “ régua” para adotar ou não uma palavra de ordem, como defende Valério Arcary, nada mais é do que adotar como política um eterno seguidismo ao ditames das classes dominantes, que como não poderia deixar de ser uma sociedade de classes, domina as instituições, a imprensa, o ensino e os mecanismos de formação da “ opinião pública”.
No Manifesto Comunista, Marx e Engels colocaram uma questão fundamental “ toda luta de classes é uma luta política”, isso quer dizer que a luta de classe somente é efetivamente uma luta de classes na medida que adquire um caráter política, ou seja consciente. Ao descrever primeiro a evolução da classe burguesa e depois do proletariado, Marx e Engels salientam a importância do partido, como organização política da classe. A polêmica com os anarquistas na Primeira Internacional, e portanto, com as concepções pequeno burguesas sobre o papel de vanguarda do partido política é esclarecedora do ponto de vista marxista sobre a questão.
A concepção de Valério Arcary e da esquerda pequeno burguesa é semi anarquista, pois na verdade representa uma recusa em apresentar uma direção consciente para as massas, o que na prática é adotar uma subordinação as disputas interburguesas. Interessante notar que os trabalhadores e o conjunto da população já ultrapassaram a retaguarda valeriana, uma vez que o Fora Bolsonaro é uma palavra popular. Na verdade, o índice de “ maturidade” das massas na “ régua” de Arcary é quando algum setor fundamental da burguesia for favorável ao Fora Bolsonaro.
