É natural que o país que ostenta a condição de praticar o melhor futebol do mundo seja também o maior celeiro de craques e, por consequência, um exportador de talentos dos gramados para os quatro cantos do planeta.
O Brasil é o país que tem o maior número de jogadores atuando em clubes do exterior, em vários países do mundo. São centenas de craques espalhados em todos os continentes, muitos deles desconhecidos do torcedor brasileiro, em função do êxodo precoce para atuar no estrangeiro.
É mais do que compreensível o desejo de todos no sentido de ter o reconhecimento do seu esforço e do seu futebol para integrar a seleção nacional e disputar uma Copa do Mundo defendendo as cores do seu país.
A dura realidade, no entanto, muitas vezes se coloca como uma barreira quase que intransponível para a realização desse objetivo, o que é reconhecido por muito atletas, pois são conhecedores dos obstáculos existentes para a realização desse que é o sonho de todos os jogadores.
Para driblar esta implacável realidade, muitos jogadores brasileiros se naturalizam para obter a cidadania onde estão atuando já por algum tempo, em busca de uma oportunidade para integrar o selecionado nacional do país que os acolheu. O caso mais conhecido e que se tornou objeto de polêmica foi a do centroavante Diego Costa, brasileiro que se naturalizou espanhol e que atuou pela seleção do país europeu na última Copa, realizada na Rússia.
Há outros casos de brasileiros naturalizados atuando em seleções estrangeiras. O caso que despertou mais recentemente a atenção e repercutiu na imprensa mundial diz respeito a um brasileiro que atua há quase dez anos na Europa, mais especificamente na Rússia. Estamos falando do brasileiro Ari, que atua pelo time do Krasnodar, é naturalizado russo e que vem sendo convocado pelo técnico da seleção russa, atuando como titular da equipe.
Trata-se do segundo brasileiro atuando na seleção da Rússia, onde o lateral Mário Fernandes já atua, tendo disputado a copa defendendo o país que sediou o último mundial, sendo o destaque da equipe no torneio.
Ari foi objeto, esta semana, de ataques racistas por parte de um veterano jogador russo, o atacante Pavel Pogrebnyak, que atualmente defende o time do FK Ural. “É ridículo que pessoas de cor joguem na seleção russa”. “Tenho uma opinião negativa a respeito (das naturalizações). Não vejo sentido. Por que deram um passaporte russo a Ari?”, questionou…(ESPN, 19/03).
Em resposta, o brasileiro declarou que “sobre esse comentário, muitos jornalistas me ligaram aqui. Eu prefiro nem falar nada, porque um cara desses nem merece atenção. Triste pensar que nos dias de hoje ainda exista algo assim. Minha ideia é continuar defendendo a seleção” (Idem, 19/03). A manifestação racista de Pavel repercutiu mal em todo o país e Ari recebeu a solidariedade de várias personalidades do universo esportivo, que repudiaram duramente as declarações do jogador russo.
O fenômeno do racismo e outras manifestações xenófobas e direitistas que acontecem em larga escala em quase todo o continente europeu é o resultado direto da decomposição econômica e social do capitalismo, incapaz de oferecer uma solução minimamente razoável e progressista para as agudas contradições que dilaceram o sistema alicerçado na propriedade privada dos meios de produção.
O avanço da extrema-direita na quase totalidade dos países do velho continente atesta a incapacidade histórica da burguesia europeia e mundial em oferecer uma perspectiva de estabilidade aos regimes políticos europeus. Somente o combate sem tréguas da classe trabalhadora e do proletariado mais organizado e desenvolvido do mundo – o europeu – poderá abrir uma nova etapa de lutas vitoriosas das massas, apontando para a derrota mundial da burguesia, a liquidação da propriedade privada e a substituição desta pela propriedade social dos meios de produção.