Mais uma tragédia vitimando um segmento pobre da população acaba de acontecer no país. Depois da avalanche de lama que soterrou centenas de famílias no município mineiro de Brumadinho, onde até o momento mais de 1 (uma) centena de corpos já foram resgatados – mas os mortos podem passar de 300 – o país acordou na manhã de sexta-feira, dia 08 de fevereiro, com a notícia sobre um incêndio no Centro de Treinamento (CT) do Clube de Regatas do Flamengo (conhecido como Ninho do Urubu) na cidade do Rio de Janeiro.
A tragédia (mais uma, anunciada) vitimou 10 pessoas, sendo 6 jogadores e 4 funcionários, que não conseguiram escapar das chamas. Três jogadores ainda ficam feridos, sem maior gravidade. O incêndio começou na madrugada do dia 08, quando atletas e funcionários dormiam no CT. Os bombeiros chegaram às instalações depois das 05h da manhã.
De acordo com informações da Prefeitura, a área onde funcionava o Centro de Treinamento tinha autorização para funcionar somente como estacionamento e não como alojamento. A Prefeitura informou ainda que lavrou mais de 30 multas ao Flamengo pela ausência de alvará de funcionamento e que o clube nunca solicitou autorização para construção de prédio no local.
A decomposição do capitalismo e a crise que atinge em cheio o núcleo central e periférico do sistema, expõe de forma cada vez mais clara e evidente que o tão exaltado regime de mercado e da livre iniciativa nada mais é do que um mecanismo para esmagar as massas populares em benefício de um ínfima minoria de magnatas que controlam ditatorialmente toda a riqueza social produzida no planeta.
O crime da Vale do Rio Doce, em Brumadinho-MG, ceifando centenas de vidas; a queda de viadutos em algumas das principais cidades do país (São Paulo, Brasília) e agora o incêndio anunciado em um alojamento de jovens atletas de base do clube de futebol mais popular do país, é a expressão mais acabada do descaso, da negligência e da transformação de seres humanos em meros instrumentos para o mercado.
No caso dos atletas de base do Flamengo, não só o rubro-negro carioca, mas a quase totalidade dos grandes clubes nacionais mantém CT’s para atletas de base, não para revelar talentos para o engrandecimento do futebol nacional, mas única e tão somente para funcionar como produto de exportação para os grandes clubes estrangeiros, particularmente os gigantes europeus, quase todos controlados por grandes conglomerados financeiros capitalistas que nada têm a ver com o futebol.
As dezenas de bons valores do nosso futebol que todos os anos seguem para os gramados europeus não deixam dúvidas sobre o caráter criminoso da política dos dirigentes dos times nacionais que controlam de forma totalmente antidemocrática a gestão dos clubes. No caso específico do Flamengo deve-se perguntar o que está sendo feito com os milhões de euros que entraram nos cofres do clube com a venda de dois dos melhores valores do time, Lucas Paquetá e Vinicius Junior, negociados com o futebol europeu.
As precárias instalações de um alojamento que sequer poderiam estar funcionando e abrigando atletas e funcionários, criaram as condições para a tragédia que ceifou a vida de dez pessoas, ferindo outras três. Portanto, o incêndio no CT do Flamengo não tem de acidental, mas é o resultado da política criminosa dos cartolas e das camarilhas que dirigem os grandes clubes em benefício de um pequeno núcleo de asseclas e bajuladores, em detrimento dos verdadeiros interesses do torcedores e da população que aprecia o bom futebol.