Em épocas de graves crises políticas, econômicas e sociais, a burguesia e sua grande imprensa procura a todo custo encobrir o descontrole do governo sobre o que de fato está ocorrendo no mundo real.
Diante do coronavírus, não é diferente. As informações são parciais, a realidade é omitida, o desemprego em massa de trabalhadores e as precaríssimas condições a que está submetida a esmagadora maioria da população, são floreadas. A crítica é pontual, as matérias mais graves estão diluídas em um “mar” de ações de solidariedade, de receitas para se evitar a contaminação, das ações benéficas da política de isolamento e do chamado à união nacional em nome de combater o vírus. “Todos somos brasileiros e estamos no mesmo barco”. Da direita à esquerda, esse é o lema nacional.
Na economia não é diferente. Em meio ao maior índice de desemprego de toda a história do Brasil, da política deliberada do governo e dos empresários em diminuir salários, em suspender contratos de trabalho, em submeter a população das periferias e favelas das cidades a condiçòes ainda mais subumanas do que as até então existentes, a burguesia e sua imprensa sempre encontra algo de “positivo” para vender seu peixe.
Nesta quinta-feira os jornais em uníssono estavam a alardear que o mês de março teve a menor inflação da história do Real para um mesmo período, 0,07%. No meio dessa verdadeira barafunda que é a medição da inflação do País, ninguém entende, nem os economistas, o que denunciador da metodologia farsesca de se medir a inflação, apenas em janeiro, portanto antes da crise do coronavírus, a cesta básica, segundo o DIEESE, havia subido em 11 capitais do País. Em São Paulo, atingiu R$ 517,51 – um bom indicador de comparação com a migalha dos R$ 600,00 aprovada no Congresso Nacional – agora, no mês de março já refletindo o impacto do coronavírus, alimentos básicos, que deveriam estar na mesa da população mais pobre, tiveram aumentos astronômicos – cenoura (20,39%), cebola (20,31%), tomate (15,74%), batata-inglesa (8,16%) e ovo (4,67%). Considerando apenas o ovo, um alimento rico em proteína e que substitui a carne na maior parte das casas brasileiras. o aumento, no atacado, foi de 17%, considerando o período total do coronavírus (cerca de 45 dias).
Esse é o “milagre da fé” dos especuladores e capitalistas: ganhar tudo que pode na alegria, na tristeza, na vida e na morte. O povo é que se vire! É o mercado! É a livre concorrência!
Uma questão crucial que o povo, principalmente, as organizações que se reivindicam dos trabalhadores devem ter presente, é que se não houver mobilização popular, o povo estará à mercê desse bando de sanguessugas, que têm como únicas preocupações o lucro e fazer com que os explorados paguem pela crise.
Para isso é necessário a constituição de conselhos populares aos milhares, principalmente nas periferias das cidades brasileiras. O Partido da Causa Operária e os comitês de luta contra o golpe e contra o fascismo têm feito campanha por todo o País para a constituição desses conselhos e há uma grande aceitação popular de que apenas o povo mobilizado será capaz de exigir dos governos as suas reivindicações mais sentidas no que diz respeito às condições básicas necessárias para enfrentar o coronavírus.
Lutar por cestas básicas, contra a carestia, exigir hospitais, exames, assistência médica, direito ao teste de coronavírus, o não pagamento da água e energia, enfim, todo tipo de reivindicação possa minora as condições da população mais pobre, são as tarefas dos conselhos.
Mas os conselhos já formados vão além. Na medida em que se discute, há uma compreensão praticamente unânime que essas reivindicações devem estar associadas a luta pelo Fora Bolsonaro e todo o regime político golpista, única forma efetiva do povo impor uma reorganização política e econômica capaz de apontar uma saída progressista diante da hecatombe que significa a pandemia no Brasil.