Espanha: ante o esgotamento do PP, burguesia escolhe o PSOE mas o fascismo ainda é uma alternativa

As eleições do último domingo (28) na Espanha, com a vitória com folga do PSOE sobre seus rivais, demonstraram que a burguesia daquele país escolheu o caminho da conciliação, ao menos momentânea, diante da crescente e cada vez mais radical polarização política.

O Partido Popular (PP) está se deteriorando rapidamente nos últimos anos, carregando a principal responsabilidade pela crise econômica. A Espanha foi um dos principais atingidos na Europa em 2008 e as medidas de arrocho implementadas a mando da Troika (FMI, BCE e Comissão Europeia) apenas entregam ainda mais a economia do país aos grandes bancos alemães e franceses, principalmente.

A crise chegou a seu clímax (até agora) com o referendo catalão, em 2017, no qual o povo daquela região separatista foi brutalmente reprimido pelas tropas espanholas. O então primeiro-ministro, Mariano Rajoy, do PP, estava no olho do furacão e sua política de força contra os catalães não agradou plenamente a burguesia, porque levou a uma grande radicalização na Catalunha e quase a uma guerra civil. Rajoy foi expelido do governo por meio do famoso artifício de “combate à corrupção” e, em seu lugar, assumiu o “socialista” Pedro Sánchez para tentar normalizar a situação.

Entretanto, a crise econômica e a radicalização por causa da Catalunha levaram à intensa polarização política, com o crescimento exponencial da extrema-direita representada pelo então desconhecido VOX. As pressões contra Pedro Sánchez foram muito grandes, tanto por parte dos catalães como pela direita, que exigia uma política mais duro contra aqueles.

Finalmente, após uma manifestação massiva da direita agrupada no VOX, PP e Ciudadanos, em Madri, Sánchez convocou eleições gerais antecipadas. Esse foi apenas o maior de muitos protestos da extrema-direita, relacionados especialmente com a unidade nacional em contraposição à independência da Catalunha. Antes, foram vistas dezenas de manifestações de grupos abertamente fascistas pedindo a supressão de todos os direitos dos catalães.

Após uma campanha eleitoral extremamente polarizada, o PSOE conquistou 123 cadeiras no parlamento, contra 66 do PP (que teve 137 em 2016) e 57 do Ciudadanos. Para conseguir formar governo, os “socialistas” deverão se unir ao Podemos (com 42 deputados eleitos) e os partidos das regiões independentistas.

Se a direita tivesse ganhado, se abriria uma crise ainda maior em relação à Catalunha, mas também iniciaria uma grande desestabilização na unidade com os outros países oprimidos por Madri, sendo seguramente o principal foco de instabilidade para o governo da direita. Na Catalunha, a esquerda independentista foi a grande vencedora; no País Basco, PP Ciudadanos e VOX não lograram um mísero assento; na Galiza, o PP teve uma queda considerável. Ficou demonstrado que a direita não tem apoio nessas regiões, bem como em outras regiões com movimentos de independência, como Valencia ou Andaluzia. Logo, a burguesia percebeu que, colocando a direita no governo, veria ameaçada mais do que nunca a unidade nacional, com risco de novos conflitos ainda mais radicais.

Entretanto, ficou perceptível que o fascismo é uma carta na manga da burguesia, cada vez mais plausível, caso o PSOE não consiga atenuar a gigantesca crise e estabilizar minimamente o regime.

O VOX conseguiu 24 cadeiras no parlamento. Desde o fim do franquismo nenhum partido declaradamente de extrema-direita havia conquistado vaga alguma no legislativo nacional. O VOX passou de nenhuma para 24 cadeiras. As estimativas diziam que passaria para mais de 30. Essa diferença entre o resultado final e as estimativas também demonstra que a burguesia decidiu pela esquerda do regime. Na semana final de campanha, páginas de extrema-direita foram censuradas pelo Facebook. Mas o fato de ter conquistado 24 cadeiras já expressa seu grande crescimento, obviamente promovido pelos capitalistas.

A crise, todavia, não vai acabar. O PSOE vai passar os próximos meses negociando apoio para formar o novo governo. A extrema-direita vai continuar na cena política, a derrota eleitoral não significa uma derrota política. A tendência a uma profunda crise é cada vez maior, inclusive com possibilidade de uma crise revolucionária, conforme a polarização se acentua.

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