Que o Estado é um gestor dos interesses da burguesia, ninguém duvida, é de conhecimento comum. Os ricos e poderosos dominam o Estado e fazem dele um meio e um amplificador de seus mais variados objetivos, articulam políticas que são diametralmente opostas aos interesses do povo operário e submetem os trabalhadores, por meio da ação estatal, aos mais bárbaros meios de sobrevivência. Cabe ao Estado, governo após governo, negar tal realidade adotando argumentos que mais parecem ofensas a capacidade intelectual do povo. No meio de uma pandemia, não seria diferente. Para quem vive do sacrifício alheio, mais mortes parecem não fazer a mínima diferença e, infelizmente, mais mortes é o que está em jogo no debate referente ao retorno do ano letivo e das atividades presenciais nas escolas em 2021.
O ano mal começou e a tradicional intransigência e o peculiar traço de autoritarismo comum a governos direitista já deu as caras. João Doria, o Governador científico, democrata convicto e civilizado direitista disse, ainda em 2020, que o retorno do ano letivo na rede estadual de educação do Estado de São Paulo aconteceria em fevereiro, mais precisamente, no dia 04 do próximo mês. Portanto, daqui a exatos 16 dias. Tal data parece estar sacramentada pelo Governo do Estado, mesmo com a vacinação mal tendo começado e com os casos de contágio e morte pela Covid-19 em pleno recrudescimento. Isso tudo, feito sem nenhuma consulta pública, usando como base apenas o conselho de cientista que ampara as políticas do Governo. Vale lembrar que tal conselho tem como credencial, a triste marca de quase cinquenta mil mortos pelo novo coronavírus.
Em Mogi das Cruzes, a desfaçatez do poder público coordenado por Marcus Melo (PSDB), atual prefeito da cidade, chegou a um novo capítulo da mais pura demagogia. Em consulta pública, a Prefeitura diz que vai considerar a opinião da população no tocante ao retorno das atividades presenciais de todos os seguimentos escolares de responsabilidade municipal. Nesse sentido, a consulta parece buscar um quantitativo de pais que estariam dispostos a levarem seus filhos para a escola caso as atividades presenciais fossem retomadas. Contudo, em nota, a Prefeitura diz que avaliará também, além da opinião pública dos mogicruzenses, toda a política adotada pelo Governo do Estado, as condições de implementação de protocolos sanitários nas escolas, a situação epidemiológica de casa bairro e a vulnerabilidade da população em cada território atendido pelas escolas municipais. Ou seja: pouco importa a opinião popular e os direitos democráticos da população. O que vale mesmo são as diretrizes que a Prefeitura adotar, sejam elas quais forem.
Ainda que levasse em conta mais critérios para o justificar o retorno das aulas presenciais, Marcus Melo e sua Secretaria de Educação deixam claro o fato de estarem inclinados a adoção, não que seja surpresa, da política de retorno às aulas determinada pela burguesia, não importando o quão impopular seja tal medida, descredibilizando qualquer consulta popular que possa ser colocada em cena. Por fim, a máxima que determina o domínio burguês exercido sobre o Estado, citada no começo desse artigo, ganha mais um exemplo, que a priori é a regra da política de retorno das atividades escolares de norte a sul do Brasil. Ademais, uma consulta popular que vai ser desconsiderada por completo, além de um engodo rasteiro, configura, como foi falado anteriormente, uma ofensa ao raciocínio do povo.