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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Pseudo-esquerda identitária

Equador: o golpismo vestido de índio

Imperialismo impulsiona setores supostamente de esquerda para impedir a vitória eleitoral do nacionalismo burguês, mesmo que extremamente moderado

O Equador dá continuidade à tendência de capitulação da esquerda nacionalista ao aceitar candidaturas mais palatáveis à burguesia nas eleições, mas há também uma nova situação para a política latino-americana do período dos golpes de Estado imperialistas. 

Em alguns países cujos governos nacionalistas foram derrubados a burguesia tentou impedir o seu retorno antagonizando-os com candidaturas da direita tradicional e, ao mesmo tempo, impondo condições pesadíssimas. Foram os casos de Argentina e Bolívia, onde os antigos presidentes Cristina Kirchner e Evo Morales, perseguidos pela justiça golpista, acordaram abandonar suas candidaturas para dar lugar a aliados muito mais moderados e direitistas do que eles próprios.

No Equador, Rafael Correa, na mesma situação, teve de entregar a campanha a Andrés Arauz, um burocrata à sua direita. Guillermo Lasso, um ex-banqueiro (embora uma vez Flamengo, sempre Flamengo…) da direita tradicional, foi colocado pela burguesia e pelo imperialismo para tentar agrupar a direita e derrotar a já enfraquecida candidatura nacionalista. Até aqui, uma situação análoga às de Argentina e Bolívia.

Entretanto, algo novo aparece nas eleições equatorianas. Enquanto na Argentina e na Bolívia, a burguesia utilizava a direita para tentar derrotar o nacionalismo, no Equador ela utiliza a direita e uma candidatura supostamente de esquerda.

Nos dois casos anteriores ao Equador, embora houvesse candidaturas da esquerda pequeno-burguesa, elas eram insignificantes para serem utilizadas pela burguesia para roubar votos da esquerda nacionalista. No Equador, o cenário já é outro.

Yaku Pérez disputa com Lasso o segundo lugar, uma semana depois do primeiro turno, devido ao atraso na contagem de votos. Ele pode ser o adversário de Arauz no segundo turno.

Candidato do partido indígena Pachakutik, Pérez é vendido como um ecossocialista e líder indígena. Ele seria um típico esquerdista pequeno-burguês e identitário. Mas por trás da fachada de esquerdista se esconde um agente do imperialismo.

Em países como Bolívia, Equador e Venezuela, o imperialismo utiliza setores indígenas mais confusos e desorganizados para jogá-los contra a esquerda nacionalista, sob a desculpa da luta ambiental. É um meio pelo qual os monopólios impedem o desenvolvimento industrial desses países, que foi, mesmo de maneira tímida, esboçado pelo nacionalismo.

Pérez atuou na oposição ao governo de Correa justamente utilizando como pretexto as reivindicações indígenas para atacar o nacionalismo. Mas não demorou para mostrar a quem ele servia. No segundo turno das eleições de 2017, quando Lenín Moreno era o candidato de Correa e ainda não havia traído seu aliado, disputou com Lasso a presidência. Perguntado sobre quem iria apoiar, Pérez disse que preferia um governo dos banqueiros do que uma “ditadura” – ou seja, um governo “bolivariano” seguidor de Correa (a mesma propaganda reacionária do imperialismo). Seriam os banqueiros ambientalistas?

Desde então, o equivalente equatoriano e indígena da nossa econeoliberal Marina Silva só aprontou. Disse que os “peixes gordos” Lula e Dilma eram corruptos e o PT caiu por isso, bem como Cristina Kirchner na Argentina. Pediu que a justiça golpista equatoriana fizesse o mesmo com Correa e seu então vice-presidente, Jorge Glas. Pois foi justamente o que ocorreu depois, ambos foram vítimas de uma perseguição política criminosa, um exilado e outro preso sob condições extremamente desumanas. “A justiça tarda mas chega”, comentou em junho de 2017, logo após Moreno chegar ao governo e iniciar a traição à chamada “Revolução Cidadã”, colocando um monte de gente atrás das grades. Antes, em novembro de 2016, já havia dito algo semelhante, desta vez envolvendo também Nicolás Maduro.

Atacou também Evo Morales, acusando-o de corrupto, assim como, novamente, a Correa. Ainda afirmou que os dois apostaram na “reeleição, autoritarismo, machismo, extrativismo e [em serem] populistas”.

Na verdade, Pérez está mais para uma mistura de Marina Silva com Luciana Genro. Quem não se lembra do apoio da psolista aos diversos golpes no continente, inclusive no Brasil? Quem não se lembra do “Viva a Lava Jato”?

As bandeiras direitistas do “combate à corrupção”, do moralismo pequeno-burguês e do identitarismo são comuns a essa esquerda golpista. E o internacionalismo golpista identitário foi expresso também pela própria Luciana Genro, ao declarar apoio aberto a Yaku Pérez (que antes da reciclagem se chamava Carlos).

Outra semelhança entre Pérez e o PSOL é a política de traição às mobilizações populares. Se o PSOL já virou expert em fazer isso (vide o acordo de Boulos com a PM para dividir a Avenida Paulista com os bolsonaristas e acabar com as manifestações das torcidas organizadas), Pérez é ainda mais criminoso. Participou dos acordos com Lenín Moreno para encerrar a insurreição de 2019, quando o povo equatoriano chegou a obrigar o governo a mudar sua sede de Quito para Guayaquil. As mobilizações eram tão incendiárias que bastaria um sopro para derrubar Moreno da cadeira presidencial. Mas a burocracia das organizações indígenas (à qual Pérez é ligado) aceitou terminar com as manifestações de caráter revolucionário, mantendo a ditadura de Moreno em pé, em troca de um não aumento dos combustíveis – que voltou a ser executado poucos meses antes.

Enquanto se decide (em um verdadeiro esquema mafioso) quem irá para o segundo turno contra Arauz, tanto Lasso como Pérez já declaram apoio um ao outro para evitar a vitória da esquerda nacionalista moderada. Isto é, Pérez pode ser o grande candidato do imperialismo no segundo turno.

Ele parece ser uma verdadeira inspiração do PSOL. Tanto é que Guilherme Boulos já se colocou contra uma candidatura do PT em 2022 (mesmo que esta seja Haddad, o Arauz brasileiro). E o suposto líder sem-teto (tal como o suposto líder indígena Pérez) já vem buscando o apoio da burguesia para se contrapor ao PT, como foi visto nas municipais em São Paulo no ano passado.

A grande diferença do Brasil para o Equador é que aqui há um Bolsonaro. Ele é o plano B da burguesia, caso esta não encontre alguém de sua total confiança e caso o PT tenha um candidato próprio (principalmente se este for o ex-presidente Lula).

Mas, certamente, podemos nos preparar para ver, mais uma vez, alguém produzido pelo imperialismo para se passar por líder da esquerda como contraponto à “velha esquerda”, corrupta e populista. Conseguirá apoio suficiente para ser a opção da burguesia? Se chegar a um ponto em que ela só poderá escolher entre o PT e um esquerdista fake, isso poderá ser possível. Esse é o sonho da esquerda golpista.

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