O multifacetado caso Neymar, que está envolvido certamente por uma gama de interesses econômicos poderosos e escusos, trouxe também a tona e mais uma vez o caráter profundamente antidemocrático da esquerda pequeno-burguesa; do feminismo burguês. Maíra Fernandes, advogada, autodeclarada feminista e defensora dos direitos humanos, contratada pelo jogador para atuar em sua defesa, foi expulsa do Comitê da América Latina e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem) simplesmente por exercer sua atividade. Uma atitude profundamente autoritária e com o claro intuito de constranger pelo moralismo aqueles que defendem os direitos democráticos como princípios gerais.
Isso porque o jogador, que alega inocência, foi acusado de ter cometido um estupro, um crime certamente odioso, contudo, para o feminismo burguês acusação e crime são o mesmo quando a vítima pertence a alguma “minoria” oprimida a que se vinculam, agrava-se, no caso concreto, o fato de o jogador não partilhar dos mesmo ideais civilizatórios defendidos pela organização.
Eliminaram assim a garantia fundamental da presunção da inocência, como se essa fosse “defesa de bandido”, contudo esse direito é essencial para toda a cidadania, pois visa impedir a perseguição, seja do Estado, seja da burguesia; dos poderosos contra o cidadão comum. Permitir que seja feito com um indivíduo rico é autoriza que seja feito amplamente com os pobres e oprimidos.
Outro elemento que chama a atenção é que pretendem atacar o próprio direito de defesa, por meio do constrangimento moral, como se o defensor fosse ele mesmo um criminoso (“quem defende bandido é bandido também’, como costuma dizer a direita) passível de punição, e sem direito à defesa, como no caso da punição dada à advogada.
Assim como para a para a extrema-direita, a presunção da inocência e todos direitos democráticos devem ser sacrificados no altar da moralidade (que em geral é pura demagogia) e da conveniência própria. Essa concepção da pequena-burguesia defende que o Direito e os direitos de cada um devem estar subordinados a uma determinada concepção moral, que no caso da esquerda é supostamente democrática, supostamente defensora das “minorias”, que se o indivíduo possui, possui também os direitos, se não, o Direito e os direitos se lhe são alheios, e o meio para impor tal concepção a totalidade da população é a punição exemplar dada pelo Estado, cuja função, na sua ideia, é justamente essa, impor essa concepção e essa disposição moral a todos e pela força.
É caso, por exemplo, da criminalização da homofobia, que endurece as penas e abre mais possibilidades de o Estado encerrar gente pobre e negra.
Não é por acaso, contudo, que essas concepções convergem com as da extrema-direita, pois constituem uma tradução para a esquerda (liberal), no caso, da mesma política e da mesma ideologia geral que a burguesia imperialista dissemia. De um lado, a extrema-direita a partir dessa concepção como que para se contrapor a ela, advoga em termos gerais: “Direitos Humanos para humanos direitos”, uma política de fazer o Estado esmagar ainda mais a população pobre, trabalhadora, negra, de maneira aberta e clara sem as mediações das instituições “democráticas” do regime político, de outro a esquerda, defendendo as mesmas instituições afirma: os direitos devem ser garantidos a todos aqueles que comungam da nossa ideologia “democrática”, para os outros a punição estatal, o que, na sua ideia, seria a defesa das “minorias”, que se lhe vinculam, que são evidentemente as expressões de diversos movimentos, mas na classe média, contra os machista, os homofóbicos, os racistas, etc.
A única coisa que fazem do ponto de vista real é contribuir para eliminar os direitos democráticos do povo, fortalecer o aparato repressivo do Estado, maquina de esmagar a população, sobretudo negra e pobre e auxiliar a burguesia nos seus planos sinistros, tudo isso com a ilusão de estar auxiliando a humanidade na sua evolução para a moral superior que eles acreditam deter.