Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, 74% dos estudantes das redes municipais e estaduais do país estão recebendo algum tipo de ensino remoto durante o período da pandemia. O estudo mostra que 37,1% dos alunos realizam os acessos às suas atividades pela TV, pelo rádio, pela internet ou por videoaulas gravadas. Ademais, cerca de 2,7% dos alunos têm acesso somente por materiais impressos e 24,1% não têm nenhum tipo de acesso.
Por mais que a pesquisa citada pareça dar algum tipo de panorama positivo acerca da situação dos estudantes brasileiros, devemos ser extremamente cuidadosos.
Primeiramente, vale ressaltar que, entre as instituições que encomendaram o estudo, encontra-se a Fundação Lemann. O presidente da fundação, Jorge Paulo Lemann, não passa de um tubarão do empresariado brasileiro que, nos últimos tempos, tem focado seus esforços no EAD, já que compreende o lucro que o modelo engendra.
Em segundo lugar, precisamos levantar a seguinte questão: ensino pela TV, pelo rádio ou por algum tipo de cartilha impressa é, de fato, ensino? Deixaremos a discussão acerca das vias virtuais para um momento mais adiante. Todavia, os outros meios citados não passam de medidas “para inglês ver”. Afinal de contas, é simplesmente esdrúxulo pensar que um aluno pode ter qualquer tipo de aprendizado por meio de uma aula na televisão, como se isso substituísse minimamente o ensino presencial.
Por último, a velha questão do acesso já deveria barrar completamente o avanço do modelo no país. Afinal de contas, é utópico pensar que o governo golpista de Jair Bolsonaro e, acima de tudo, o empresariado brasileiro, farão qualquer esforço efetivo para ampliar o acesso de forma eficiente no país. Deve ficar bem claro que garantir um celular e um pacote de dados à um aluno não é solução de forma alguma.
Existe um consenso maior acerca dos meios citados acima no que diz respeito à péssima qualidade do ensino que proporcionam. Entretanto, o ensino virtual ainda é grande alvo dos capitalistas. Por conseguinte, acabam direcionando esforços homéricos para que sua implementação seja, finalmente, aceita e generalizada. Prova disso é a campanha em torno do EAD: tem sido propagado como um modelo inovador que salvará a educação brasileira durante a crise, promovendo uma grande inovação no sistema de ensino público.
Deve ficar bem claro que o EAD, em geral, é tudo menos inovador e, principalmente, passageiro. O fato é que o modelo gera lucros bilionários às empresas. Além, é claro, de todo o seu caráter de privatização, uma vez que a responsabilidade de fornecer a infraestrutura necessária para os alunos é retirada do estado e é transferida para as empresas de tecnologia e telecomunicação. Nesse sentido, é de total interesse da burguesia que esse projeto se mantenha até depois da pandemia do coronavírus. Dizem que é uma medida paliativa quando, na verdade, estão introduzindo o modelo agora para que, depois, tenham precedente para implementá-lo permanentemente. É a velha política da direita: comer pelas bordas.
Acima disso, é um modelo que ataca diretamente a mobilização popular. Afinal de contas, são nas escolas que os alunos se politizam, iniciam suas vidas sociais e formam unidades estudantis verdadeiramente combativas. Isso só mostra como a burguesia morre de medo da juventude, sabe que são os jovens que vão tirá-la do poder. Não é atoa que foram os estudantes um dos principais elementos na derrubada da ditadura brasileira de 64.
No fim, somente a mobilização popular pode dar um basta no avanço que a burguesia tem feito sobre a educação brasileira. Caso contrário, estaremos caminhando em uma estrada que resultará na privatização e, consequentemente, na precarização total do ensino público. É dever, portanto, das grandes instituições estudantis como a UNE e a UBES de organizar os estudantes para que o EAD não seja implementado em lugar algum. Finalmente, o ano letivo deve ser cancelado e as aulas suspensas até que seja seguro. Algo diferente disso e estaremos caindo em mais uma ladainha da direita, preocupada unicamente com seu lucro, custe o que custar.