Com a publicação da MP trabalhista, que já está em vigor, o governo federal estima que cerca de 24,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada serão atingidos pela redução de salários e da jornada de trabalho ou pela suspensão do contrato de trabalho. Com isso, o governo acredita que cerca de 8,5 milhões de trabalhadores, dos 12 milhões que estavam ameaçados de demissão, preservarão seus empregos às custas de uma brutal diminuição de suas rendas.
A política do governo é a de preservar a todo custo as empresas capitalistas – quanto maiores, mais recursos são garantidos, vide o R$ 1,2 trilhão para o sistema financeiro – e fazer com que a população trabalhadora pague, seja ela com carteira assinada ou não.
Segundo dados do IBGE de fevereiro de 2020, o Brasil tem aproximadamente 33,6 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Desses, mais de 73 % terão redução de salários. Um outro contingente de cerca de 3 milhões (segundo o governo) se somarão aos 12,3 milhões de desempregados, portanto, já seriam mais de 15 milhões de desempregados. Considerando que o número de desempregados não reflete as demissões ocorridas no mês de março, já sob o impacto da epidemia, e mais os quase 5 milhões de desalentados (pessoas que desistiram de procurar emprego), esse contingente aproxima-se por baixo dos 21 milhões de trabalhadores.
Um fenômeno tão grave, mas até pior que esse, ocorre com os trabalhadores da economia informal. Segundo o mesmo IBGE, 40,6 % da força de trabalho vive na economia informal. Desses, 24,5 milhões trabalham por conta própria e outros 11, 6 milhões não têm carteira assinada, totalizando 35,1 milhões de trabalhadores. Finalmente, existem ainda os subempregados que não estão inseridos em nenhuma dessas categorias e que formam um contingente de 33,3 milhões que no jargão do Instituto seriam trabalhadores subutilizados, subocupados, etc.
Esse é o quadro da força de trabalho em meio a uma pandemia que ameaça de morte, segundo estimativas de infectologistas, até 2,5 milhões de brasileiros. Como o próprio governo admite o abono de R$ 600 atingirá em torno de 25 milhões de pessoas ou menos de um terço da população necessitada e isso sem considerar o valor absolutamente irrisório.
Do outro lado, no vértice da pirâmide, apenas em uma operação, o governo disponibilizou R$ 1,2 trilhão para os banqueiros. Enquanto a esmagadora maioria da população continua tendo que pagar impostos, luz, água, aluguel, os empresários estão recebendo todo o tipo de subsídio. Fica claro o conluio entre o Estado e os capitalistas para despejarem a crise sobre os trabalhadores.
Diante dessa realidade é absolutamente criminosa a política da esquerda e aí se incluem os sindicatos e outras organizações que se reivindicam do povo, em deixar nas mãos dos estados nacional e estaduais a solução para se enfrentar o gravíssimo quadro de pandemia que se abateu sobre o País.
Apenas uma política independente das frações da burguesia que brigam entre si pelos recursos do Estado pode apontar uma saída progressista para o povo.