O assassinato de uma criança em uma comunidade pobre do Rio de Janeiro, executada covardemente com um tiro de fuzil nas costas, ação praticada pela Polícia Militar carioca, sob determinação do criminoso e nazista governador do Estado, Wilson Witzel, desencadeou em praticamente todo o país um sem número de manifestações de indignação e repúdio, muito deles exigindo o impeachment e/ou a interdição do bolsonarista chefe do executivo do segundo Estado mais importante do país.
Vários populares e também personalidades, artistas, intelectuais, religiosos, juristas e políticos compareceram às redes sociais para repudiar a ação da PM mais violenta do país, que ostenta em seu macabro prontuário, somente neste ano, nada menos do que 1.075 mortes, o que dá uma média de 4 pessoas assassinadas por dia, comprovadamente praticadas pelos agentes armados do Estado, sejam eles a PM ou outros organismos que compõem o mosaico da repressão carioca contra a população pobre e explorada que habita as comunidades, morros e favelas da cidade, permanentemente aterrorizadas em seu cotidiano pela repressão e também pelas temidas milícias, que atuam sob a cobertura do Estado, muitos deles, os milicianos, integrantes dos próprios órgãos oficiais da polícia do Estado do Rio de Janeiro.
Este verdadeiro estado de terror e morticínio, que foi instalado de forma mais aberta e ostensiva a partir da posse do nazifascista Witzel (eleito sob a mais escancarada das fraudes), nunca foi objeto de qualquer campanha de denúncia por parte de nenhum setor da esquerda carioca, que conta com representantes do Psol, PCdoB e do PT, tanto no legislativo local como nacional (Marcelo Freixo-Psol; Jandira Feghali-PCdoB) e muitos outros, que se limitam a fazer discursos da tribuna parlamentar, incapazes, como já vimos, de impor qualquer limite, muito menos deter, a ação de extermínio que o governador carioca e sua polícia vem realizando contra a população pobre da cidade.
Em mais um episódio de pura lamentação e “indignação” verbal contra a barbárie que está instalada em seu próprio Estado, o Deputado Federal Marcelo Freixo (Psol-RJ), o homem que é o defensor das UPPs cariocas, ocupou sua conta em uma rede social para mais uma declaração que é muito reveladora da política que vem sendo a marca da atuação parlamentar do Deputado, procurando igualar situações e fenômenos que não podem ser igualados, pela sua natureza e conteúdo. Freixo publicou em sua conta, em referência ao assassinato da menina Agatha Félix, que “um terço dos moradores do Rio estão nas comunidades, que não são compostas de gente envolvida no crime. Tem tráfico? Tem, mas os moradores são as maiores vítimas do que acontece lá. Hoje, o governador disputa com o tráfico quem faz mais mal à favela”
Não, senhor Deputado. Isso que o senhor publicou é um completo despautério, um descalabro, uma sandice e tornam as coisas ainda muito piores do que já estão e que contribui para alimentar ainda mais a confusão. Gostaríamos de dizer ao senhor Marcelo Freixo que não há qualquer parâmetro de comparação entre a carnificina que é perpetrada pela PM carioca contra os que habitam as comunidades pobres e a ação do tráfico, no quesito “maldades’ contra a população. Nunca é demais lembrar que a PM é o braço oficial da repressão estatal, que detém o monopólio da força, que pode agir quando quiser e como bem quiser e contra quem quiser, a qualquer hora e a qualquer momento e em qualquer lugar, mas preferencialmente, como vem fazendo, contra os pobres, explorados e indefesos da cidade. Lembramos ainda que embora seja constitucionalmente ilegal o que a repressão oficial vem fazendo no Estado do RJ, a legislação que trata da questão é simplesmente desconhecida e pisoteada e a PM segue matando, impunemente.
O tráfico, senhor Deputado, não pode ser igualado à ação criminosa da polícia – que aterroriza a população – pelo simples fato de que o ainda comércio ilegal de drogas é realizado justamente por parte da população que é marginalizada e excluída pelo Estado de qualquer política pública que beneficie os menos favorecidos, os mais vulneráveis, que são empurrados para o tráfico pela mais completa ausência de amparo social, pelo desemprego, pela completa ausência de perspectiva de vida. Os jovens que se tornam “soldados do tráfico” estão muito, mas muito longe de poderem ser comparados aos assassinos autorizados do Estado, vale dizer, o atual governador, a PM e outras derivações desta.
Trata-se de um verdadeiro escárnio contra a população pobre das comunidades dizer que a PM e o tráfico, conjuntamente, são hoje os grandes inimigos da população que habitam essas localidades. Na verdade a declaração de Freixo é ainda mais absurda e inaceitável, pois o Deputado coloca o tráfico em primeiro lugar no que diz respeito a fazer mal às comunidades, afirmando que… “Hoje, o governador disputa com o tráfico quem faz mais mal à favela”. Mais claro e explícito, impossível. Para o deputado psolista o mau maior, que aterroriza as comunidades, é o tráfico e a quem ele se vincula e trabalha. A polícia assassina do governador, a polícia que já assassinou mais de 1.000 pessoas somente este ano, a polícia que dispara contra crianças indefesas, entra como personagem coadjuvante neste sinistro, macabro e horripilante enredo.