Há um mês, Abraham Weintraub, ministro da Educação, expôs a polêmica decisão de manter o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) – principal porta de acesso para o ensino superior no país – em oposição à decisão da Justiça Federal de São Paulo, que determinou a suspensão do exame devido à ausência de prazo do país na superação da pandemia do coronavírus.
Com as escolas paradas, e o exame se aproximando, os estudantes estão se agarrando nos instrumentos e materiais que podem para fortalecer seus estudos e convicções para o ingresso nas universidades nacionais. Porém boa parte destes afirmam não terem condições para o estudo fora das escolas, seja pela falta de computador, internet ou até um espaço dedicado para a concentração.
No Brasil, segundo a pesquisa realizada pela TIC Domicílios, em 2018, aproximadamente 67% das casas no país têm acesso à rede, pouco mais acessa regularmente a internet, aproximadamente 46,5 milhões de domicílios. 49% dos domicílios da zona rural possuem acesso. Nas regiões urbanas, cerca de 74% da população está ligada à internet.
Dados como esse, prova materialmente o desespero de boa parte dos estudantes que tinham somente os espaços e estruturas das escolas para o preparo aos exames de vestibular. Muitos estudantes estão se preparando somente com arquivos baixados pelos dados móveis de seus celulares. Alguns dizem que mal podem assistir à vídeos, já que seus pacote de dados não suportam os arquivos. Outros moram com quase 20 parentes na mesma casa, como relata Marcus Vinícius Conceição dos Santos, morador da segunda maior favela de São Paulo, Paraisópolis.
Outra estudante de Paraisópolis, Giselle maria Ramos da Silva, de 18 anos, questiona a manutenção do ENEM durante a pandemia. Afirma que, “continuar com o exame mais importante do país quando a maioria de estudantes não têm um suporte mínimo para estudar em casa é contribuir ainda mais com a desigualdade”.
Sobretudo a imensa maioria pobre dos estudantes é que serão excluídos do acesso à universidade se o ENEM não for suspenso. É necessário que os estudantes se mobilizem contra o governo Bolsonaro, que, como se já não bastassem projetos de destruição do ensino público, vai se aproveitar da crise e dos fechamentos das escolas para privilegiar aos que possuem as condições materiais o acesso à educação superior.