A crise política segue aumentando conforme as contradições de Bolsonaro são expostas. Depois de fazer demagogia com PMs grevistas e convocar sua base de apoio popular a se mobilizar contra o Congresso e o STF (órgãos onde se concentram os setores mais centristas da direita), a burguesia se dividiu em torno da disputa aberta entre a direita centrista e a extrema direita, com vitória da ala centrista.
O Instituto Brasil 200 , organização que reúne burgueses como Flávio Rocha, Luciano Hang, João Appolinário, Sebastião Bomfim entre outros notórios direitistas apoiadores do governo Bolsonaro, decidiu não apoiar a manifestação marcada para 15 de março. Segundo o presidente da entidade, Gabriel Kanner, os membros poderão decidir individualmente entre participar do ato ou não porém no mesmo dia, empresários ligados ao IB200 organizarão um jantar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) na cidade de São Paulo. À Folha de SP, Kanner declarou que “atacar o Congresso é muito diferente de atacar uma PEC. Estamos atacando a PEC 45”, enfaztizando que não há intenção no grupo em atacar a direita centrista. O Painel S.A da Folha destaca a notícia reportando ainda “movimento de reconciliação” entre os empresários e Congresso.
O caso mostra a profunda divisão existente no interior da burguesia, que ora parece desejar um endurecimento maior do regime, ora parece temer as implicações políticas que geralmente acompanham esse tipo de expediente. Após a preferência pelo silêncio ante as ameaças do bolsonarismo, o centro, liderado por Rodrigo Maia, aparenta ter conseguido articular um racha na direita capaz de levar a mais uma derrota política de Bolsonaro.
A divisão aparece também em um campo particularmente espinhoso para o conjunto da burguesia que é o comando da máquina. É de conhecimento públilco que Bolsonaro foi escolhido em meio a uma profunda desconfiança da classe burguesa, que tinha outras opções mas acabou se rendendo à única opção com alguma base de apoio real para ser capaz de levar adiante a política desejada pelos capitalistas. Ainda assim, a falta de habilidade, que o faz chegar ao quarto mês sem um partido político que lhe dê sustentação (portanto, cada vez mais dependente dos militares) e as contradições como a do caso dos PMs grevistas, que entraram em choque direto com a política de arrocho pretendida pela burguesia, fazem com que Bolsonaro se torne um elemento muito pouco confiável e contribua ainda mais para a turbulência causada pela conjuntura ampla, marcada por uma forte tendência de piora da crise iniciada em 2008, o que torna a debilidade política de Bolsonaro, um fator de desarticulação ainda maior.