Os redutos bolsonaristas estão se esfarelando há certo tempo. Entram em crise cada vez que não conseguem entregar aos capitalistas estrangeiros e também aos nacionais o que prometeram. Agora saem mais dois secretários do Ministério da Economia. A imprensa burguesa chamou de “debandada”, o presidente ilegítimo comentou nas redes sociais que “é normal a saída de alguns” (Metrópoles, 12/8/20)
Está claro que os secretários saíram porque não estão conseguindo entregar o que prometeram. Salim Mattar, o secretário de Desestatização que deixa o governo, é um empresário dono da Localiza, empresa de aluguel de automóveis. Saiu dizendo que as coisas no governo são lentas demais, ele já queria ter passado as estatais para o capital, certamente o internacional. “As nossas empresas estatais valem R$ 1 trilhão. Gente, se vender Petrobras, Banco do Brasil, tudo dá R$ 1 trilhão. Com R$ 1 trilhão, nós resolvemos todas as finanças do país. Por que não fazemos isso? Não deveríamos fazer isso? É uma questão de mentalidade e vontade política”, declarou Mattar à GloboNews (G1, 12/8/20). O que ele sequer comenta é que esse 1 trilhão do qual ele fala foi só uma parte do dinheiro que o governo Bolsonaro transferiu para os banqueiros no primeiro semestre. “Mattar afirmou que gostaria de ter privatizado todas as estatais, mas que não teve êxito no planejamento durante os 18 meses em que esteve no governo” (UOL, 12/8/20).
O outro que deixa o governo, Paulo Uebel, secretário de Desburocratização, é ligado ao Instituto Millenium, entidade financiada por empresários de extrema-direita dos EUA, que também incursiona no campo religioso e ajuda a produzir golpes em países atrasados. Ligado ao governador de São Paulo, João Dória, ele queria fazer uma grande reforma administrativa, demitir funcionários públicos, acabar com a estabilidade e outros detalhes, mas não avançou muito, principalmente por conta da reação dos próprios servidores públicos e seus sindicatos, que conseguiram deixar o Congresso Nacional temeroso das repercussões em tempos de eleição municipal.
Winston Ling, extremista de direita e empresário bolsonarista que levou Paulo Guedes à campanha presidencial, expressa o desalento de parte da burguesia nacional com respeito à capacidade do governo federal promover a privatização e a desestruturação do Estado prometida aos capitalistas. Em entrevista declarou que a saída dos secretários coloca em risco o governo (Folha de S.Paulo, 12/8/20). O medo dele é que o plano neoliberal ou ultra-liberal de contenção de gastos e privatização vá por água abaixo.
Uma das coisas que mantém o governo Bolsonaro com o apoio da burguesia é a confiança que ela tem de que as promessas serão cumpridas, o dinheiro vai sair dos cofres públicos e irá para os bolsos dos banqueiros, empresários e investidores, nacionais e internacionais, as empresas serão vendidas ou doadas, e leis para garantir o controle dos recursos naturais serão aprovadas, assim como a destruição dos poucos direitos trabalhistas que restam e a manutenção e expansão do aparato de repressão dos trabalhadores (milícias, PM, Exército).
Se esse programa falhar, é claro que a burguesia vai procurar outros caminhos (por isso o ensaio de uma frente ampla), mas uma coisa é certa, nessa altura dos acontecimentos, a burguesia não vai permitir que arroubos de democracia eleitoral venham a comprometer tudo o que ela conquistou desde o golpe de 2016.