Nesse ano de 2020, cerca de 73% das crianças entre 4 a 6 anos de idade que estavam matriculadas no ensino privado se matricularam na rede pública de ensino em São Paulo. Essa “migração” se deve por duas razões muito importantes, que fazem parte da vida de cada brasileiro hoje em dia, que é o empobrecimento das famílias e consequentemente a falência generalizada das escolas. Devido à falta de condições de pagamento para custear um ensino privado, já que as famílias estão sistematicamente perdendo sua renda, já se somam a 30% do total das escolas privadas falidas, em apenas alguns meses de pandemia.
A crise econômica já havia forçado 981 crianças a se matricularem no ensino público no ano passado, em 2019, neste ano o número subiu para 1.700, mostrando a deterioração do regime econômico no País. Com a pandemia, essa deterioração se aprofundou drasticamente, e essa “migração” mostra a superfície dessa crise social. A maior parte ocorreu na região do Ipiranga, com 258 crianças, e da Penha, somando 183. Bairros com população mais pobre e homogeneamente operária, como Capela do Socorro, onde está localizado a Cidade Dutra e Grajaú, tiveram só 67 pedidos de novas matrículas para crianças.
A crise econômica, a pandemia e a falta de política do Estado forçam as famílias a retirarem suas crianças da escola. E nisso estão envolvidos ainda mais outros problemas, fundamentalmente dois. A primeira é a política do poder público em relação ao ensino, que via de regra é a repressão. O Estado força as famílias a matricularem as crianças do núcleo familiar na base da ameaça jurídica, chegando até a ameaçar da perca da guarda da criança independentemente da situação.
Há inúmeros casos onde o Conselho Tutelar ameaça os pais de levarem seus filhos à escola, mesmo nas piores condições, ao mesmo tempo em que a assistência é zero e o órgão faz vista grossa há casos muito mais graves, como o trabalho infantil que ocorre aos montes na cidade e no campo. O órgão, que faz parte do aparato repressivo do estado, mesmo que tenha uma feição “boazinha” é usado para forçar as crianças, mesmo na faixa etária de 4 a 6 anos, ao Ensino a Distância e será usado agora, junto a PM, para obrigar as crianças a voltarem as aulas presenciais em meio a pandemia.
A segundo problema, que se refere ao problema das voltas a aulas, é que as mães dessas crianças estão sendo obrigadas a voltarem a trabalhar, com a reabertura econômica. Sendo assim, precisam matricular seus filhos em creches e escolas, que, inclusive, não tem nem condições de receberem todas as crianças de São Paulo. O que é absurdo que o poder público, principalmente os governadores de direita, empurrem a coisa para essa situação calamitosa. É necessária uma ampla mobilização para estatizar todo o sistema de ensino, suspender as aulas e garantir, de fato, um verdadeiro isolamento social, testagem em massa e milhares de hospitais de campanha para salvar a vida de milhões de brasileiros.