Em janeiro de 2020, houve eleições parlamentares no Peru, tais eleições resultaram em uma mudança importante na formação do Congresso do País. O Congresso antes dominado por apoiadores do ex-presidente Alberto Fujimori – um dos grandes ditadores da América Latina que governou de 1990 a 2000, presidente extremamente autoritário e anticomunista, sendo diretamente responsável pela morte de centenas de militantes do Sendero Luminoso, e que foi extremamente duro com a população do campo, demonstrando uma ditadura de caráter genuinamente fascista – passou a ser um congresso pulverizado, sem uma maioria de algum partido.
Foi notória a votação da legenda FREPAP – Frente Popular Agrícola do Peru, 8,27%. A FREPAP é formada por uma mistura de elementos religiosos: judaísmo, cristianismo e religiões incas. Uma manifestação conservadora que vive conforme o antigo testamento da bíblia cristã, e que avançou no país.
Em novembro/2020, houve um golpe da extrema direita no Presidente já de direita, Vizcarra – Partido Peruanos para a Mudança, PPM, colocando no poder um aliado de Fujimori.
O Peru vem sendo governado pela direita e extrema direita há décadas, e portanto é um país com graves questões em relação às mulheres.
Na última década, o Peru acumulou um recorde no número de assassinatos de mulheres, e entre janeiro e dezembro de 2019, foram 168 casos registrados de assassinatos, e 2.232 casos de desaparecimento de mulheres. Se pensarmos que o Peru é um país governado há décadas pela direita, em que as mulheres acabam sofrendo os maiores danos decorrentes da miséria causada por esses governos, esse número deve ser ainda maior, assim como os números reportados de desaparecimento de mulheres em 2020, já que estamos em situação de pandemia da Covid19, e o próprio governo dificultou que fossem realizados os registros de desaparecimentos, e buscas foram interrompidas pelas polícias, conforme informa a ONG Mulheres Desaparecidas, pela sua fundadora Katherine Soto.
A Defensora Pública Patrícia Sarmiento, comissária adjunta para os Direitos da Mulher da Defensoria Pública, informou em entrevista à AFP, que em 2020, 1.686 mulheres adultas e 3.835 meninas e adolescentes foram dadas como desaparecidas, totalizando 5.521 mulheres, conforme o sistema de busca de pessoas desaparecidas do Ministério do Interior. O dobro registrado em 2019. Este é o primeiro ano que a Defensoria publica este relatório, dado o aumento da violência contra as mulheres, disse a comissária à AFP. No entanto, a Defensora pontua que esse aumento é muito mais preocupante, já que essas mulheres, devido a quarentena por covid19, deveriam estar seguras em seu lar. Onde elas estão?
Como em todos os países capitalistas, em que pouco ou nada foi feito para amparar a população frente a pandemia covid19, onde milhares e milhares de pessoas estão morrendo, ou adquirindo sequelas importantes decorrentes da doença, nada também é feito em relação ao gigantesco número de mulheres desaparecidas no Peru. ONGs femininas denunciam que polícia e promotores não investigam adequadamente os casos, pois dentro da sua lógica fascista, acreditam que as mulheres desapareceram por vontade própria, não levando em consideração a alta taxa do chamado feminicídio, tráfico de pessoas e prostituição forçada que existem no Peru.
Durante o período de maior isolamento social que ocorreu entre 15/03/20 e 30/06/20, foram oficialmente declaradas desaparecidas 606 meninas e adolescentes, e 309 mulheres adultas. Em relação aos feminicídios, foram 138 oficialmente declarados.
Todos os dias 15 registros de mulheres desaparecidas são realizados, um acontecimento a cada 2h. Não é possível aceitar que tais desaparecimentos estejam relacionados a questões pessoais, pontua Sarmiento, mas sim que estão ligados às formas de violência, tráfico de pessoas e assassinatos de mulheres, que inclusive se exacerbaram muito durante a pandemia.