Em plena crise causada pela pandemia do coronavírus, o prefeito, Nelson Marchezan Júnior, do PSDB, ordena a derrubada de moradias na Vila Nazaré, na região norte de Porto Alegre. A ação do poder público ocorre desde sábado, 21/03, destruindo pelo menos 10 casas, segundo o coordenador nacional do MTST-RS (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto no Rio Grande do Sul), Eduardo Osório, ouvido pela Ponte.
Esta semana a cidade de Porto Alegre teve seu primeiro caso de contaminação pelo vírus e mesmo com o pedido do Ministério Público e das Defensorias públicas de interromperem a ação desumana por causa da dificuldade que essas famílias terão para se proteger da contaminação em meio a medidas de quarentena estabelecidas pelo próprio poder público, o prefeito tucano não se deteve. Os tratores não só destruíram as casas desses trabalhadores como, também, passaram por cima de todos os seus pertences.
Um morador, que é auxiliar de supermercado, relata que sua filha, que está grávida, e recentemente esteve hospitalizada por se tratar de uma gravidez de risco, teve sua casa totalmente destruída juntamente com tudo o que se encontrava dentro: geladeira, fogão, micro-ondas, mesas, cadeiras e um freezer que ela usava para guardar os lanches que vendia.
Nas redes sociais apareceram vídeos que documentam o momento em que os tratores destruíam “sem dó nem piedade”, segundo a fala do próprio morador, as casas desses trabalhadores, que estarâo desprotegidos e muito mais expostos à contaminação.
A Prefeitura de Porto Alegre age contrariando as próprias determinações do prefeito que no último sábado, 21/03, decretara o impedimento de serviços de várias naturezas, inclusive da construção civil, como medidas para impedir o avanço da pandemia no município.
Desde o ano passado famílias da Vila Nazaré estão sendo removidas para dar espaço à futura extensão da pista do Aeroporto Salgado Filho. Originalmente eram cerca de 2 mil famílias, sendo que, segundo Eduardo Osório, 800 já foram transferidas do local. “Não estamos impedindo ninguém de sair, tanto que quem desejar se mudar, está se mudando. A questão é que, com a chegada da pandemia, as formas de remoção estão contrariando todas as recomendações da OMS [Organização Mundial da Saúde] e da Justiça. É um reassentamento forçado o que eles estão fazendo”, diz o coordenador nacional do MTST-RS. O poder público já age a algum tempo no sentido de inviabilizar a vida desses moradores através de cortes no fornecimento de água e luz, fechamento de creches e “até o centro de serviço social foi demolido”, denuncia Osório.
O que vemos nessa situação é a completa indiferença da Prefeitura de Porto Alegre que age violentamente contra a população que devia ser protegida durante a crise sanitária, deixando-os completamente desamparados. Expor famílias de forma totalmente injustificada para esse momento é o melhor exemplo que podemos ter de que o povo não deve confiar nos governos, sejam eles municipais, estaduais ou federal, para se protegerem.