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Em entrevista de compadres, Boulos defende bancos, empresários, não luta contra o golpe e não defende Lula

Guilherme Boulos, candidato à presidência atualmente no Psol, foi ao Roda Viva na noite de segunda-feira (7). O programa propõe entrevistar “todos” os candidatos à presidência. A exceção, evidentemente, é Lula, que completou um mês como preso político também na segunda. No esforço de fingir que as eleições são de fato eleições mesmo sem Lula no páreo, a imprensa capitalista que foi um dos agentes do golpe tem dedicado grande espaço a candidatos de esquerda que terminarão de qualquer forma ganhando uma fatia pequena dos votos.

 

E o golpe?

Nesse quadro, a entrevista de Guilherme Boulos encaixou-se perfeitamente na encenação golpista de que estamos prestes a passar por um processo eleitoral. Na verdade estamos diante de uma fraude da direita para tentar legitimar um novo regime político. Com Lula na cadeia, as eleições são uma manobra. A omissão de Boulos sobre a natureza dessas eleições e o golpe da direita chamaram atenção durante a entrevista.

Quando falou em golpe, Boulos mencionou um “golpe parlamentar”. Uma forma de mitigar o que de fato aconteceu. Sobre a prisão de Lula, limitou-se a dizer que foi uma prisão sem provas. Não disse que essa prisão é parte do golpe, e que as eleições sem Lula são o golpe. A própria palavra “golpe” quase não esteve presente. Também não foi considerada a participação militar no golpe, a ameaça do general Villas Bôas na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula no STF.

A ausência do golpe também se revelou na própria análise política esboçada ao longo do programa da TV Cultura. Respondendo a uma pergunta sobre como avaliava a política econômica dos governos do PT, Boulos afirmou que Dilma adotou uma política boa até 2015, combatendo os juros altos com a participação dos bancos públicos. No entanto, considerou que não poderia concordar com o ajuste fiscal de 2015 em diante. O problema é que essa política de Dilma foi adotada justamente sob a pressão da direita golpista e do imperialismo. Boulos ignorou o golpe em sua avaliação.

 

PMDB na oposição

Outra posição que demonstrou que Boulos não compreendeu o problema do golpe foi sua declaração de que em seu governo o PMDB seria oposição. Boulos não explicou como faria isso. O Psol participa da luta pelo poder com os mesmos meios do PT: uma política parlamentar e eleitoral, por dentro do regime. Com esses meios, como o Psol governaria sem o PMDB caso Boulos fosse eleito? Com o PSDB? A afirmação foi feita em uma resposta à pergunta de por que Boulos não está no próprio PT.

 

Venezuela

Boulos também não entendeu as consequências da ofensiva golpista na Venezuela. Rubens Figueiredo, entrevistador coxinha que procurava encurralar Boulos, perguntou se a Venezuela seria um modelo para Boulos e o Psol. Segundo o coxinha, a Venezuela seria socialista, e o Psol também seria, e portanto a Venezuela seria um modelo fracassado para o Psol.

A resposta de Boulos foi a seguinte: a crise na Venezuela deve-se à queda do preço do petróleo e o governo venezuelano não é um modelo para o Brasil. Aliás, nenhum governo seria modelo para o Brasil, “cada país deve encontrar seu caminho”. Nesse caso também Boulos ignorou o papel do golpe e do imperialismo na crise venezuelana. Nada sobre a sabotagem econômica, nada sobre a campanha de desabastecimento ou sobre o imperialismo. Nenhuma denúncia da tentativa de golpe na Venezuela, um golpe impulsionado pelo mesmo setor estrangeiro que está por trás do golpe no Brasil.

 

O que é o socialismo?

Por falar em socialismo, os entrevistadores insistiram em saber por que Boulos, candidato do Partido Socialismo e Liberdade, não abandona essa velha ideia. A resposta de Boulos foi a seguinte: “não se prenda a um termo. o importante é saber o que a gente quer. E o que nós queremos é igualdade de oportunidades para todos”. Eis a concepção de socialismo de Boulos e do Psol: igualdade de oportunidade para todos. Além de uma definição de socialismo do Psol, essa frase também poderia ser o slogan dos Estados Unidos da América, a terra das oportunidades. O socialismo de Boulos e do Psol é o capitalismo. E de fato é exatamente isso.

 

Empresários e banqueiros

Diante de uma definição de socialismo como essa, não surpreende que Boulos, o homem que promete colocar o PMDB na oposição, tenha sido tão pouco radical ao falar sobre empresários e banqueiros.

Ao longo da entrevista, o candidato do Psol procurou impressionar a audiência com uma série de frases de efeito, como por exemplo “colocar a solidariedade no centro da política” e “reinventar a democracia”. Fórmulas vazias com a intenção de soar bem ao ouvido. Contudo, as frases realmente marcantes para quem estava atento à entrevista tinham um conteúdo bem claro.

Perguntaram ao candidato psolista, em tom irônico, se ele governaria sem os bancos. Boulos não se intimidou… em negar. “Não, não é governar sem bancos. É governar com bancos que tenham uma taxa civilizada. Banco vai ser regulado e pagar mais imposto.” Quanto à regulação dos bancos, sabemos que o Psol irá realizá-la sem o apoio do PMDB.

Além dos bancos, também os empresários figuraram no discurso do líder do MTST. Boulos disse que não estava naquela entrevista para “demonizar os empresários”, ao responder a uma pergunta de Fabio Wajngarten sobre os impostos sobre os pobres patrões. Afinal, os empresários “servem ao país”…

 

Herança

Depois de defender empresários e banqueiros, e não apresentar uma denúncia contundente contra o golpe aproveitando a audiência de um canal de televisão, Boulos aproveitou para encerrar a entrevista, em que os entrevistadores passaram todo o tempo levantando bolas para o candidato psolista cortar, com mais uma frase de efeito. Sobre ser ou não “herdeiro político” de Lula, Boulos respondeu: “Herdeiro só se fala quando está morto. O Lula está vivo e é candidato”.

Uma frase muito bonita, mas o fato é que os candidatos da esquerda que não usam as eleições para denunciar o golpe, mas para apresentar um vago programa que não vale nada, comportam-se como abutres disputando o espólio eleitoral de Lula. Política que não levará nenhum setor da esquerda a lugar nenhum, apenas ajudará a direita em sua procura por apresentar o golpe e a fraude eleitoral como legítimos.

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