Não é novidade alguma que há um setor da esquerda nacional fazendo propaganda de que a “grande luta” contra a direita deverá se dar nas eleições. Esse tipo de propaganda sempre houve, e sempre se mostrou um fracasso. O que motiva esse tipo de campanha, obviamente, não é uma loucura coletiva, por mais irracional que esse tipo de política seja, mas sim o fato de os setores mais direitistas da esquerda nacional, vinculados à burguesia, acabam pressionando a esquerda de conjunto para adotar uma política que possa manter os seus privilégios. Ou, pelo menos, assim acreditam.
Se a política de cunho puramente eleitoral sempre foi inócua, uma espécie da arapuca contra a mobilização popular, a cada ano que se passa, essa política tem se tornado ainda mais inviável. Isso porque o avanço dos golpistas sobre o regime político é cada vez mais evidente: o cerco à esquerda é cada vez maior e, portanto, as eleições são um espaço cada vez mais restrito à direita.
As eleições de 2016, que foram as primeiras após o golpe, já foram extremamente antidemocráticas. O tempo de campanha foi reduzido drasticamente e várias medidas foram tomadas para inviabilizar a campanha de rua. Isso, somada à política da esquerda pequeno-burguesa de ignorar o problema do golpe de Estado, levou à uma estrondosa derrota. Em 2018, o esquema da burguesia foi mais além: o maior líder popular do País foi impedido de concorrer, a extrema-direita invadiu sedes, pessoas foram coagidas pela polícia simplesmente por panfletar ou portar faixas, milhões de eleitores nordestinos tiveram seu título de eleitor cassado etc.
Agora, estamos em meio a uma pandemia de coronavírus e o regime político está ainda mais direitista. O controle dos golpistas sobre as instituições é ainda maior. Nessas condições, a esquerda terá uma dificuldade imensa de fazer algum tipo de campanha. Para se ter uma ideia, um deputado do PDT já propôs que fossem proibidos comícios públicos, sob o pretexto da pandemia.
Se não houver comícios públicos, além de todo tipo de medida arbitrária, no fim, a única campanha eleitoral que será possível será uma campanha “de dentro de casa”. Ou seja, pela internet e pela televisão. Ambos os meios, cada vez mais, estão sob o controle da direita e exigem uma grande quantidade de dinheiro para dar um retorno satisfatório.
Não bastasse isso, a direita vai continuar utilizando todo tipo de expediente para criminalizar a esquerda, cassar candidaturas, bloquear propagandas na internet, reprimir atividades públicas etc. Até mesmo figuras da esquerda já preveem que as capitais de todos os estados poderão cair no controle da direita neste ano.
Para que as eleições fossem minimamente democráticas, seria necessário que fossem convocadas em meio à uma mobilização popular. Por isso, ao invés de entrar de cabeça nas eleições, é preciso mobilizar os trabalhadores pela derrubada do governo Bolsonaro, pela derrubada do regime político golpista e pela convocação de eleições gerais, verdadeiramente democráticas, com os direitos políticos de Lula restabelecidos.