O Partido Socialista dos Operários da Espanha (PSOE) venceu novamente as eleições espanholas, ficando com 120 cadeiras no Parlamento, três a menos do que nas últimas eleições, realizadas em abril. Essa vitória da esquerda institucional do regime político, no entanto, ficou muito longe de definir a situação política na Espanha, que continua em um profundo impasse, sem que nenhuma força consiga formar um governo. Para conseguir ser nomeado presidente do governo (nome oficial do cargo de primeiro-ministro na Espanha), Pedro Sánchez teria que ter vencido as eleições com seu partido, ou uma coligação, levando 176 lugares do Parlamento.
Essa foi a quarta eleição realizada na Espanha em quatro anos, um dado que por si só demonstra a crise política no País. A direita tradicional cresceu nas eleições, com o Partido Popular indo de 66 para 88 cadeiras. O Ciudadanos, que poderia compor um governo com o PSOE, caiu de 57 para 10 cadeiras, enquanto o Unidas Podemos caiu de 33 para 26 cadeiras. A coalizão catalã da Esquerda Republicana ficou com 13 deputados e não deverá formar governo com ninguém, depois das condenações de lideranças catalãs independentistas esse ano a penas de até 13 anos.
Extrema-direita cresce
O principal dado dessas eleições é o crescimento do partido de extrema-direita, o Vox, liderado por Santiago Abascal. O partido foi de 24 eleitos em abril para 54 eleitos agora, mais que dobrando sua bancada, com 28 deputados a mais. Até abril, o partido, que surgiu agora, não tinha deputado nenhum. Ou seja, foi de zero para uma bancada com 24 deputados do dia para a noite, e depois de meses consegue mais do que dobrar essa bancada. Como a situação para formar um próximo governo continua travada, pode ser que haja, mais uma vez, novas eleições transcorrido pouco tempo. Nesse caso, o Vox poderia crescer ainda mais.
Crise do regime
O crescimento da extrema-direita é um fenômeno que está acontecendo em toda a Europa. No caso espanhol, a peculiaridade do movimento separatista na Catalunha impulsionou a extrema-direita, que defende uma brutal repressão dessas tendências das nacionalidades oprimidas artificialmente mantidas sob uma unidade territorial submetida à Espanha. Porém, trata-se de um processo comum a todo o continente, que expressa a crise do regime político do imperialismo europeu, que está em franca desagregação e procura responder a isso com o deslocamento à direita de setores da burguesia imperialista.
É nesse quadro que o Vox vem crescendo, fazendo propaganda contra o separatismo e contra os imigrantes. Esse crescimento se dá com uma campanha demagógica contra o regime político, ao qual os partidos tradicionais que se alternam no poder aparecem atrelados. Por isso o Partido Popular decaiu, apesar de uma recuperação nas eleições de domingo, e o Partido Socialista também perdeu força. No vácuo deixado pelos partidos do regime a extrema-direita cresce. Outro fator determinante nesse processo político é a omissão da esquerda institucional, incapaz de fazer frente às políticas neoliberais, que essa mesma esquerda passou a aplicar em seus governos.