Na última semana, conforme noticiado por este Diário, aconteceram as eleições municipais no Uruguai que levaram à vitória a frente ampla no país. Analisando mais a fundo os aspectos que envolvem a situação política do Uruguai e de toda a América latina, tendo em vista sobretudo o avanço da extrema direita e da intervenção imperialista, percebe-se que não há nada para comemorar uma vez que a vitória da frente ampla está longe de representar a vitória da classe trabalhadora, situação que guarda semelhanças com o caso brasileiro e as eleições municipais deste ano.
O anúncio da vitória eleitoral da frente ampla no Uruguai levou diversos setores da esquerda uruguaia e até mesmo brasileira a comemorar o acontecimento como uma grande conquista na luta política contra a direita. Essa euforia é uma ilusão, uma vez que considerando os integrantes da frente mais a fundo fica evidente que o ganho político desta vitória nas eleições é inexistente.
Em Montevidéu, por exemplo, a esquerda vêm se mantendo no governo desde a década de 1990, e mesmo assim nas eleições deste ano sofreu para conseguir se reeleger com apenas 51% dos votos. Já a direita conseguiu 38%. Além disso, em relação aos anos anteriores, a frente ampla perdeu diversos estados (departamentos) e este ano conta com apenas 3 dos 19 existentes, estando os outros 16 nas mãos da direita e da extrema-direita. Isto por si só, mas não apenas, revela o avanço da direita e o retrocesso da esquerda que se agarra na frente ampla com setores impopulares.
Este avanço da direita por sua vez não significa uma aceitação popular da direita; significa que a esquerda frente amplista está se distanciando cada vez mais da luta política real junto à classe trabalhadora em nome de alianças com setores que agem para impedir esta luta política, o que leva consequentemente a que a direita encontre o espaço livre para avançar na sua ofensiva contra o povo como tem feito com o Cabildo Abierto defendendo a ditadura militar, ocupando ministérios, colocando militares no governo e criando elementos de extrema-direita aos moldes de Bolsonaro como é Lacalle Pou, etc. Por outro lado, conseguir uma vitória eleitoral que mesmo com todos os esforços foi inexpressiva e distante dos trabalhadores não é nenhum avanço para a esquerda.
A situação política da esquerda nas eleições no Uruguai serve de exemplo para a esquerda brasileira. Nas eleições municipais deste ano (2020), a esquerda está seguindo os mesmos passos e se valendo da política de frente ampla com os golpistas, enquanto abrem mão da verdadeira luta política com os trabalhadores em torno do Fora Bolsonaro e todos os golpistas, pela candidatura do ex presidente Lula em 2022 e de tantas outras reivindicações dos trabalhadores.
Buscar o caminho das alianças com os inimigos do povo é abandonar qualquer possibilidade de derrotar a direita. Mesmo porque o combate à direita não acontece nas urnas, muito menos em eleições fraudadas dentro de um regime de golpe de Estado, onde todos os aparatos estão sob o comando da burguesia e da própria direita. A esquerda brasileira precisa abandonar imediatamente as ilusões eleitorais e da frente ampla e voltar seus esforços para o que realmente importa e que pode dar resultados que é a mobilização dos trabalhadores e demais explorados contra a burguesia e em torno das suas reivindicações.