Um dos resultados que mais chamaram atenção nas eleições europeias foi a ampla vitória do candidato da extrema-direita italiana Matteo Salvini, do partido Liga do Norte. Por um lado, este resultado mostra a tendência ao desenvolvimento da extrema-direita em toda a Europa mas também em todo o mundo, e por outro revela também o atual estágio de desagregação do regime capitalista europeu, que é fundamental para o funcionamento do capitalismo em escala mundial.
É fundamental destacar o caráter internacional deste avanço, uma vez que a esquerda pequeno-burguesa, tanto a brasileira quanto as estrangeiras têm uma tendência de caracterizar os fenômenos políticos como “jabuticabas”, eventos que se desenvolveram em solo nacional e que não possuem relação com o que acontece no resto do mundo. De uma maneira geral, as eleições europeias mostraram também um enfraquecimento do setor conservador, que seria uma espécie de centro político na União Europeia, quer dizer, uma ala que, embora seja reacionária até a medula, procura se apresentar como imparcial, e em alguns sentidos até “progressista”, mas que nos temas fundamentais segue a orientação do imperialismo. Algo parecido com o que temos visto aqui no Brasil com Ciro Gomes e Tabata Amaral, ambos do PDT.
Quando a conjuntura política evolui e a polarização em uma determinada sociedade se amplifica, um dos efeitos mais visíveis é o derretimento do centro político, que normalmente serve para garantir a estabilidade do regime. É um fenômeno que nós brasileiros temos observado cotidianamente no Brasil do golpe. Diante dessa situação, por um lado há uma tendência ao desenvolvimento da extrema-direita, que é invariavelmente estimulada e financiada pelos capitalistas nos momentos em que estes julgam ser conveniente. Por outro, a reação popular vai depender dos partidos e movimentos de esquerda. Caso a esquerda, através dos seus partidos, não seja capaz de apresentar um programa que atenda aos interesses do povo, é até inevitável que o terreno seja dominado pela extrema-direita.
A vitória de Salvini e da extrema-direita nas eleições europeias da Itália mas também em geral mostra que o que temos aqui é esse segundo caso. A esquerda social-democrata europeia de uma forma geral tem muitos vínculos com o imperialismo europeu e relações que vêm de longa data. E a esquerda que se pretende revolucionária também não apresenta o seu próprio programa. Embora não seja a opção preferencial da burguesia em condições normais, a extrema-direita neste caso conta com o apoio do imperialismo. Diante da dissolução das lideranças tradicionais do último período, como é o caso de Angela Merkel e principalmente Macron mais recentemente, um setor da imprensa internacional já alça Salvini à qualidade de mais nova grande liderança na Europa. Devemos avisar que pelo próprio histórico, a vida política dos que procuram implementar políticas neoliberais, do ponto de vista do apoio popular, tende a ser bem curta.
Finalmente, para aumentar a profundidade da crise, a extrema-direita no governo ou parlamento costuma aprofundá-la ainda mais, como também temos sido testemunhas oculares nos governos Temer e Bolsonaro. Do ponto de vista da burguesia isso pode ter resultados desastrosos, como vimos no caso dos coletes amarelos na França ou, ainda pior, com o desenvolvimento de um partido revolucionário que consiga atrair atrás de si amplos setores das massas nestes países.