As eleições foram um obstáculo na luta contra o golpe em 2018, levando a esquerda a participar de uma manobra da direita, graças às ilusões eleitorais. Agora esse mecanismo de desvio de forças da esquerda para atividades inócuas entrará em ação mais uma vez, durante as eleições municipais. Agora, porém, o fenômeno se repete em uma etapa mais desenvolvida da luta política.
A tendência à polarização é muito forte, de modo que a direita se deslocou mais à direita, tornando-se a direita uma coleção de bolsonaristas de maior ou menor grau. Os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, João Doria, Wilson Witzel e Romeu Zema, respectivamente, ilustram bem esse movimento. Diante da polarização que existe na sociedade, a direita toda se radicalizou, como uma resposta à possibilidade de revolta popular que aparece cada vez mais claramente.
Enquanto a direita faz esse movimento, porém, setores de esquerda estão sucumbindo à campanha de direita contra a polarização. Em um quadro político como o atual, abrir mão da polarização significa adaptar-se à direita. Não polarizar à esquerda enquanto o regime está no polo oposto, e ir com essa política para as eleições, levará a esquerda direto para o colo do bolsonarismo.
Sinais alarmantes desse fenômeno aparecem desde o ano passado, e até antes. Como se viu no caso da reforma da Previdência bolsonarista que o governador Rui Costa impôs aos servidores da Bahia. Ou, ainda, no caso escandaloso da esquerda que votou no pacote anticrime no final do ano passado, com direito ao aumento do cumprimento máximo de pena para 40 anos. Nessa ocasião, parlamentares do PT, PCdoB e Psol votaram com a direita a favor de atrocidades que a extrema-direita demorou décadas para conseguir aprovar no Congresso. Até aí chega a adaptação à direita por causa das ilusões eleitorais.
A ideia de se adaptar à direita seria disputar votos com os direitistas. Ignorando a fraude eleitoral de 2018 e o cenário de golpe de Estado, setores de esquerda aceitam a mentira propagada pela imprensa golpista de que a direita seria popular nas eleições. Ou seja, que os eleitores, o povo, seria direitista e por isso estaria votando na direita. Portanto, a esquerda teria que adotar parte do programa da direita para disputar os votos dessa direita.
Essas considerações são o contrário da política que deveria ser adotada neste momento. É preciso aproveitar a polarização e a tendência à mobilização para chamar os trabalhadores às ruas para lutar contra o governo. A adaptação à direita só fortalece a própria direita, ajuda os direitistas a deslocarem toda a situação em um sentido favorável para eles. É preciso combater essa adaptação, com campanhas que estimulem a polarização do lado dos trabalhadores, levantando um programa de esquerda para a crise e o Fora Bolsonaro!