No próximo domingo (27), acontecerá o primeiro turno das eleições presidenciais da Argentina. Para ser eleito presidente já neste domingo, o candidato com mais votos terá de obter 40% dos votos válidos, além de 10% de vantagem sobre o segundo colocado, ou ainda 45% dos votos válidos. Caso isso não aconteça, os dois candidatos mais bem posicionados participarão de um segundo turno no dia 24 de novembro.
Seis postulantes ao cargo de presidente da República Argentina participarão das eleições do dia 27. No entanto, a disputa está centrada em dois candidatos: Mauricio Macri, atual presidente, e o peronista Alberto Fernández, que tem como candidata a vice Cristina Kirchner, ex-presidenta da Argentina (2007-2015) e principal liderança da esquerda no país.
Cristina Kirchner decidiu não sair candidata a presidente da República – o que seria o mais natural – porque temia ter sua candidatura cassada pelo regime político golpista estabelecido na Argentina. Contudo, mesmo se lançando candidata a vice e apoiando um candidato a presidente que não é vinculado ao movimento popular, Kirchner tem visto sua chapa aparecer sempre na frente nas pesquisas de intenção de voto. De acordo com os últimos levantamentos, a maior diferença entre as intenções de voto de Fernández e Macri é de 22 pontos, enquanto a menor é de 16. Em ambos os cenários, Alberto Fernández e Cristina Kirchner venceriam com tranquilidade no primeiro turno.
A aparente larga vantagem de Alberto Fernández em relação ao atual presidente argentino revela a forte tendência de todos os povos da América Latina a rejeitar a política neoliberal. O mero resultado eleitoral, no entanto, não implica em nenhuma mudança efetiva nas condições de vida dos trabalhadores argentinos.
A devastação que Macri provocou na Argentina não é o produto de sua incompetência administrativa, mas sim a consequência de uma brutal ofensiva da direita sobre os países latino-americanos. O imperialismo derrubou, por meio de golpes de Estado, a presidenta Dilma Rousseff, eleita no Brasil, o presidente Fernando Lugo, eleito no Paraguai e o presidente Manoel Zelaya, eleito em Honduras, corrompeu o presidente equatoriano Lenín Moreno e está tentando derrubar o presidente Evo Morales, eleito na Bolívia, o presidente Nicolás Maduro, eleito na Venezuela, e o presidente Daniel Ortega, eleito na Nicarágua. Na Argentina, impôs goela abaixo a vitória de Mauricio Macri em 2015, em um processo muito semelhante a um golpe de Estado.
Se o objetivo do imperialismo é impor a política neoliberal a qualquer custo, não é possível acreditar que a mera vitória eleitoral de Alberto Fernández reverterá os ataques ao povo argentino. Para garantir que os ataques continuem, a direita está disposta a fraudar a eleição, como já fizeram antes, e até mesmo a dar um golpe militar, como foi feito recentemente em Honduras. Em último caso, a burguesia pode convocar o próprio Alberto Fernández para ser seu representante na presidência da República. E é isso que vem acontecendo.
Por mais que nada indique de maneira clara que Macri já foi descartado pela burguesia, é nítido que há, cada vez mais, uma aproximação de Alberto Fernández com a direita golpista. O próprio Fernández, que é um político profissional, já participou de governos que aplicaram a política neoliberal. Fernández vem se reunindo frequentemente com setores da burguesia e já fez várias promessas para tentar acalmar a direita. Em agosto, após reunião com representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), Fernández se comprometeu em manter, as bases da política econômica da burguesia.
O atual cenário das eleições argentinas, que mostra Macri disposto a continuar seus ataques por mais quatro anos e Fernández procurando receber a “bênção” da burguesia, mostra a necessidade de organizar uma luta real contra a ofensiva do imperialismo na América Latina. Para barrar os ataques dos capitalistas, que está matando de fome o povo argentino, não basta eleger um candidato para presidente: é preciso mobilizar os trabalhadores para, a exemplo do que está sendo feito no Chile, enfrentar a direita.