O jornal El País, incensado por certa esquerda tupiniquim, é um jornal espanhol, endividado naquele pais, completamente comprometido com poder e com altos executivos. Promoveram na Espanha demissões em massa, ao mesmo tempo em que seus dirigentes ganham cerca de U$ 1 milhão por mês, fazendo o jogo de grandes grupos empresariais europeus.
No Brasil, o jornal faz tipo progressista, pelo menos liberal. Na Espanha, porém apoiou a direita sempre. Lá, no máximo, uma aproximação com a social-democracia espanhola, que é uma vergonha, é o partido que ajuda os EUA a dar o golpe na Venezuela. Basta lembra que o primeiro chefe da social-democracia da Espanha, Adolfo Suárez, foi um agente da CIA.
Em artigo do dia 08/04/2018, o articulista do El País, Felipe Betim, mostra bem para onde pende o jornal e sua linha editorial. Com o título “Lula e Marielle, símbolos de duas esquerdas separadas nas ruas”, o artigo tenta carimbar alguns partidos de esquerda, e suas pautas/demandas, como antiquadas, velhas, inadequadas, como seus militantes e apoiadores, enquanto outros partidos, se mostram antenados, descolados, atualizados, com pautas mais condizentes com militantes jovens, com as mulheres, com aqueles que se movem por pautas identitárias.
Nessa toada, PSol seria o descolado, a nova esquerda, enquanto setores do PT, o PCO etc. seriam antiquados, a velha esquerda. A conclusão lógica da leitura do artigo é que lutar por Lula Livre é antiquado, é coisa de velhos e de uma esquerda envelhecida, assim como manter os trabalhadores como objeto central da luta política.
Por sua vez, lembrar de Marielle e promover atos para lembrar da vida e luta da vereadora do PSol é algo muito mais atual, atrativo. Dessa forma, as pautas feministas, LGBTQ, ‘da juventude’, seriam as pautas da nova esquerda, com militantes igualmente jovens, festivos, alegres, em contraste aos carrancudos militantes da velha esquerda, que ainda acreditam em luta de classe, na importância dos sindicatos.
No fundo, o que o articulista diz é que a luta da classe trabalhadora é inútil, não é ‘pauta’ para a juventude, ou seja, a esquerda teria que deixar de ser esquerda para manter-se ‘atrativa’. Lula é passado a ser esquecido, o futuro da esquerda são as pautas identitárias, e muita festa. O partido de esquerda do futuro deve ser um partido inócuo.
Esse é o El País, que tem a missão de criar partidos como o Podemos, que se alinhou à extrema-direita contra a independência da Catalunha. Ou o Syriza, partido de estimação dos bancos alemães e franceses. Dividir os partidos de esquerda e, no final, na prática, transformá-los em base de apoio a governos de direita.
Esse mesmo articulista, no dia seguinte, 08/04/2019, na edição em espanhol do mesmo El País, reforça seu ataque ao Partido dos Trabalhadores, reafirmando que o PT estaria perdido por se prender à campanha por “Lula Livre”. O tom do artigo é o de que o PT está lutando para se reencontrar e que enquanto não aceitar o governo Bolsonaro e voltar a atuar como verdadeira oposição, vai continuar perdido.
Para reforçar essa avaliação, usa o sociólogo Celso de Barros Rocha, que avalia a atuação parlamentar e não vê o PT liderando a oposição, na realidade, para ele “o partido ainda não encontrou um líder no Congresso porque está ligado a essas questões” (referentes à Lula e como defendê-lo e à sua libertação).
No final, o que estaria em jogo seria também uma disputa no campo ‘progressista’ pela hegemonia, que, segundo o sociólogo, teria sido ocupada pelo PT nos últimos 30 anos. E essa competição pela hegemonia deve forçar os vários PTs (tese do Barros Rocha) seriam forçados a mudar.
Nesse caso, a mudança, segundo deixa claro o articulista do El País, seria transformar-se em um partido de esquerda que esqueça as lutas da esquerda (velha), esqueça o trabalhador, esqueça a luta de classes, esqueça a política.