Em matéria publicada no El País, “Quando todos somos fascistas”, o articulista Daniel Verdú reclama da banalização da palavra fascismo. Segundo ele, o fascismo não se adaptaria bem para caracterizar a extrema-direita atual.
Citando Emilio Gentile, autor de Quien Es Fascista, afirma que “estamos usando um termo de maneira inadequada para explicar fenômenos novos. E o erro responde principalmente à incapacidade de enfrentar, com olhar crítico atual, assuntos contemporâneos”.
E diz “nenhuma palavra foi tão utilizada nos últimos tempos para desqualificar rivais de todo tipo, para refletir um autoritarismo crescente ou para definir, recorrendo ao passado de forma cansativa, um aroma político que emana do presente e cujas características se repetem no mundo todo sem uma resposta adequada”.
Desta forma, coloca-se uma tese errada sobre o fascismo, de que a extrema-direita atual não é fascista, pois teria alguns traços contemporâneos. Seria uma extrema-direita moderna, não fascista.
Ora, obviamente, as coisas só existem em um determinado período, em um determinado lapso de tempo. Porém, o fascismo moderno e o fascismo de Hitler e Mussolini não são diferentes na essência por conta disso, apenas aparece influenciado por questões da modernidade que não existiam antes.
Afirmar isso é dizer que a sociedade não está em evolução constante e que os períodos não têm uma relação entre si. O que é uma ideia errada. As coisas estão em constante movimento, e uma coisa é consequência de uma outra anterior. O fascismo “moderno”, então, é produto de uma evolução do fascismo anterior.
O que tem que ser observado é que as características fundamentais do fascismo de Hitler e Mussolini e dos dias atuais continuam as mesmas, que é de esmagar todas as organizações dos trabalhadores, como por exemplo sindicatos, partidos políticos, movimentos sociais etc.
O fascismo, por exemplo, é produto da crise capitalista e do controle político do mundo pelos monopólios, em especial dos banqueiros. Foi por isso que surgiu o fascismo, pela incapacidade da burguesia de sustentar o regime democrático-burguês do Século XIX. Diante da crise política das décadas de 10, 20 e 30, em decorrência de uma profunda crise do sistema capitalista, a burguesia se utilizou deste novo movimento político, que tinha como objetivo conter a classe operária diante da crise.
As situações atuais são parecidas. Também estamos em uma intensa crise de todo o regime capitalista. Na verdade, desde o surgimento do fascismo, o capitalismo nunca saiu da crise, apenas teve em alguns momentos de crescimento econômico artificial. Por isso, o fascismo é, desde então, uma ameaça constante para o mundo. E por isso, com a intensa crise, ele aparece novamente no cenário político.