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Efeito da vitória da extrema-direita na Itália: crise interna do governo causa temor da burguesia pela polarização

Em 2018, o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, ameaçou renunciar, em face dos atritos entre seu partido, o populista Movimento 5 Estrelas (M5S), e o Liga Norte (LN), de extrema-direita, do atual ministro do interior, Matteo Salvini.

A questão foi que, embora o M5S tivesse sido a legenda que recebera, individualmente, mais votos nas eleições de março de 2018 (32,6%), e ficado atrás apenas da coligação de centro-direita, liderada pelo Força Itália, do ex-premiê Silvio Berlusconi, com a Liga Norte (37%) –  que é, de fato, de extrema-direita, nenhum dos grupos obteve votação suficiente para governar, nem para, portanto, formar uma aliança que pudesse solidificar uma maioria no Parlamento.

Apesar disso, uma ‘solução de consenso’ foi obtida, com a mediação do Presidente da República, Sérgio Mattarella, evitando-se novas eleições naquele ano.

Em março de 2019, nas eleições regionais em Abruzzo, a Liga Norte obteve uma vitória esplendida sobre o M5S, obtendo 28% dos votos, o dobro do que obteve nas eleições legislativas de março de 2018. Se o M5E tornara-se o maior partido da Itália após as últimas eleições legislativas, nas eleições regionais, obteve apenas 19% dos votos, ficando atrás da oposição de centro-esquerda, que alcançou 31%.

Embora permaneça como aliada do governo, que tem o M5E na liderança, a Liga Norte, nas eleições regionais fez campanha contra o ele. Na realidade, graças a essa aliança, o M5E vem perdendo força, enquanto a Liga aumentou muito seu consenso junto ao eleitorado, provavelmente graças ao estilo agressivo de Matteo Salvini.

No final de maio, outra vitória da Liga de Salvini, que alcançou maioria nas eleições para o Parlamento Europeu, mostrando definitivamente a força do partido.

O partido de extrema-direita foi o mais votado no país, alcançando 34% dos votos, o dobro do que conquistou nas eleições gerais italianas de 2018. Nesse quadro, obteve, da mesma forma, quase duas vezes mais votos do que o M5S, que obteve  17,1%. O M5S, então, sofreu outra grande derrota e terminou em terceiro lugar, atrás do Partido Democrático (PD), que chegou a 22,7% de votos.

A despeito de a aliança entre a Liga Norte e o M5S estar mantida, para o governo italiano, o fato é que Salvini aumentou a conta para não exigir a queda do governo e a convocação de novas eleições.

Mas o que parece indicar certa estabilidade, com a sinalização de Salvini de não se movimentar pela derrubada do governo é apenas um simulacro da crise pela qual passa o país, a ponto de o Presidente da República chamar a atenção para o que considera um risco para o país – a saber, a polarização, motivo pelo qual pronunciou-se nos seguintes termos, mandando um recado claro para a Liga Norte:

“Liberdade e democracia não são compatíveis com os que alimentam conflitos, com aqueles que pretendem criar oposições insanas, com aqueles que fomentam confrontos”

 

A crise atravessa o sistema político e a economia, mas afeta, por isso mesmo, as instituições italianas de uma maneira determinante, alcançando as Forças Armadas e o Judiciário. Por isso, o Chefe de Estado decidiu manifestar-se chamando, como já fizera em 2018, à prudência, temeroso, repita-se, quanto aos movimentos da Liga e de seu líder, em face da força demonstrada nas ultimas eleições.

Salvini objetiva, claro, garantir que o Conselho de Ministros tenha confirmadas nomeações de interesse de seu partido, nomeações chave. E, apesar de ter se comprometido a manter a aliança com o M5S, a verdade é que a Liga já articulou proposta importante com impacto no orçamento, sem consulta ao ‘aliado’.

É esse tipo de provocação e de “teste’, promovidos pela Liga, que preocupa o Presidente e revelam a crise por que passa o país e que, após a vitória da extrema-direita nas eleições para o Parlamento Europeu, ficou exarcebada.

Sérgio Mattarella é a própria voz da burguesia, que tem pavor da polarização. E a crise interna do governo tem potencial para levar o país a uma polarização bastante aguda. Então, a fala do Presidente indica o temor que têm de que Salvini, em algum momento, force a dissolução do governo, considerando a avaliação que a Liga tem de que obteria a maioria em novas eleições legislativas e, assim, poder governar sozinho.

Mattarella, que é de centro-direita, coloca-se em oposição a Salvini por temer uma radicalização política, mas também porque a depender do movimento que o chefe da Liga Norte fizer, pode representar um golpe sobre o próprio presidente e seu partido.

Por isso, há uma grande confusão nesse momento que precede a reunião do Conselho de Ministros, estando todos de olho em Salvini e em seu partido, envoltos, ao mesmo tempo, num turbilhão de fofocas, vazamento de documentos, acusações generalizadas, pressão, e mobilização nas redes sociais de apoiadores e adversários do líder de extrema-direita.

O que está claro é que se fará tudo para evitar novas eleições legislativas, o que dependerá de muitos fatores, e pode ser determinante o papel do Presidente nesse sentido, sem garantias no entanto, pois a polarização já é um fato.

A burguesia perdeu o controle e agora faz contenção de danos.

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