Os acontecimentos que se seguiram à eleição que deu a vitória ao presidente venezuelano Nicolás Maduro revelaram mais uma o cinismo da direita e do imperialismo. A direita pró-imperialista amargou um fracasso em sua tentativa de boicotar a eleição, quase metade dos eleitores compareceu às urnas, mesmo com toda a pressão da direita, e elegeram Maduro com 67% dos votos válidos. O voto não é obrigatório no País, o que naturalmente diminui o comparecimento na votação.
Após a vitória de Maduro, os Estados Unidos não reconheceram o pleito e aprofundaram as sanções contra o país. Junto com os norte-americanos vieram os governos capachos da América do Sul. O governo golpista brasileiro, o governo direitista de Macri na Argentina, a Colômbia e o Peru anunciaram o não reconhecimento da eleição.
Pior do que isso, documento revelou a preparação de uma intervenção militar imperialista na Venezuela, com o uso desses governos capachos, a começar pelo Brasil. O vice-secretário de Estado norte-americano, John Sulivan, visitou o Brasil nessa terça-feira para discutir a Venezuela.
O argumento fundamental para os ataques contra Maduro, reproduzido pela imprensa internacional e a imprensa golpista no Brasil, é a falta de democracia na Venezuela. Maduro seria um ditador.
Quem acusa o “ditador Maduro” são os governos direitistas da América do Sul, a começar pelo brasileiro que ascendeu ao poder depois de um golpe de Estado contra uma presidenta eleita com 54 milhões de votos. No Brasil. Michel Temer e todos os golpistas não são ditadores.
Há também o acusador mor, Donald Trump e os Estados Unidos da América. No país pintado como um modelo de democracia, predomina um sistema bipartidário enrijecido que não permite a efetiva participação de outros partidos e pior ainda, a eleição norte-americana é decidida de maneira indireta, pelo chamado colégio eleitoral, como ocorreu na última eleição, quando Trump perdeu no voto popular mas foi eleito mesmo assim.
Há ainda o caso recente da independência da Catalunha. A população votou, saiu às ruas aos milhares pela independência e o que a democrática Espanha fez? Interveio na região, prendeu os líderes do movimento e impediu que a vontade popular fosse colocada em prática. Não se viu nenhum jornal capitalista atacando o governo espanhol como uma ditadura, nada disso.
Diga-se de passagem, na Espanha ainda persiste um monarquia, assim como na Inglaterra, que é o outro exemplo de democracia para o imperialismo e sua imprensa venal. Naquele País, a família Real ainda dá as cartas, como ficou evidente no espetáculo grotesco, seguido pela imprensa golpista brasileira, do casamento do príncipe Harry, aquele que já foi flagrado vestido de nazista. Se a própria existência da monarquia já é sinal de que democracia ali passa um pouco longe, o que dizer que todo o espetáculo do casamento serviu para preparar o terreno para um golpe contra o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn? Isso porque, à parte todas as formalidades, em última instância quem dá o veredito final sobre o Primeiro-ministro é a rainha. Isso sim é que é democracia!
Enquanto isso, a ditadura é na Venezuela, um País cujo povo decidiu enfrentar o imperialismo, que realizou quase uma eleição por ano, entre municipais, estaduais e parlamentares e presidenciais desde 2013, quando Maduro foi eleito pela primeira vez. Esse governo, que conta com o apoio das Forças Armadas, que tem maioria no Parlamento e que constitui milícias populares nos bairros, ou seja, apoiado pelo povo, o imperialismo chama de ditadura.
Um dos argumentos contra o governo venezuelano são as supostas prisões políticas. Opositores foram presos após as tentativas fracassadas da direita pró-imperialista de realizar manifestações golpistas, como fizeram no Brasil. Mas mesmo por esse critério, a “democracia” brasileira também não só tem presos políticos, como colocou na cadeia o principal líder político de esquerda em nível internacional. Isso sim é democracia.
A ditadura é quando o povo manda. Quando quem manda é o imperialismo ou seus capachos como o governo brasileiro, aí é democracia.