Há exatos 83 anos atrás, em 26 de abril de 1937, a aviação alemã de Adolf Hitler destruiu a cidade basca de Guernica. Esse episódio ficou imortalizado no célebre quadro de Pablo Picasso batizado com o nome da cidade.
Foi numa segunda-feira. Guernica, apesar de passado um ano do início da Guerra Civil Espanhola (consequência do golpe de estado liderado pelo general fascista Francisco Franco contra o governo republicano espanhol legitimamente eleito), estava até então intocada. Mas no final daquele dia os seus 5 mil habitantes terão experimentado o primeiro bombardeio aéreo maciço da História contra uma cidade européia.
Os 50 bombardeiros da Legião Condor iniciaram ataques aéreos isolados no fim da tarde, culminando com lançamentos indiscriminados de aproximadamente 22 toneladas de explosivos contra alvos que não podiam mais ser distinguidos devido à fumaça dominando toda a paisagem.
Como a rede de água da cidade foi uma das primeiras coisas a ser destruída, o fogo pode consumir a cidade por horas sem nenhuma resistência.
Milhares morreram, sendo que 300 foram varridos da cidade logo no início. Os que fugiam dos prédios eram caçados um a um pelos aviões.
O ataque a Guernica foi resultado de uma aliança entre os fascistas alemães (nazistas) que já estavam no poder na Alemanha com os fascistas espanhóis que lutavam para consolidar o golpe de estado contra a República.
Essa aliança era vantajosa para Franco e Hitler. Para Franco seria de grande ajuda contar com o poderio bélico alemão. E de fato foi assim. Sem os alemães, por exemplo, Franco não teria como ter cruzado o Estreito de Gibraltar com suas tropas golpistas do Marrocos até o sul da Espanha um ano antes. Foi a Força Aérea Alemã (Luftwaffe) que fez o transporte. E do ponto de vista alemão, Hermann Göring utilizou o campo de batalha espanhol como área para testar o poderio bélico da sua Luftwaffe.
Em Guernica foram inaugurados esses terríveis bombardeios aéreos indiscriminados contra populações civis: na Segunda Guerra Mundial – cujo ponto máximo foram as bombas atômicas lançadas contra Hiroshima e Nagasaki pelos terroristas norte-americanos -, no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão…
Mas a Guerra Civil Espanhola vai além disso. Lá seria não apenas um campo de testes para as armas alemãs, mas também mostrou o quanto a burguesia mundial e seus governos “democráticos” não reagiriam ao fascismo justamente porque estavam recorrendo a ele, mesmo que de uma forma dissimulada. Desde o fim da Primeira Guerra Mundial, os vitoriosos (britânicos, principalmente) fizeram vista grossa para uma Alemanha que se armava cada vez mais, invadia vizinhos (como a Tchecoslováquia) e rompia acordos diplomáticos. Além disso, o grande sonho das burguesias dos países “democráticos” era o fim da União Soviética, e esses governos sabiam que apenas uma potência com um regime fascista poderia atacá-la militarmente pois já teria exterminado toda e qualquer oposição de sua classe operária. Para essas “democracias”, o apoio de suas classes operárias ao primeiro estado operário da História era perigoso demais. Hitler, então, parecia ser o pitbull perfeito do capitalismo mundial.
Nenhuma potência capitalista “democrática” ajudou a República, mas Franco teve o apoio de Hitler, Mussolini e até mesmo de Stálin, que perseguia dentro das fileiras republicanas aqueles que representavam a oposição mundial ao stalinismo. O que ficou evidente, então, foi a omissão criminosa de britânicos, franceses e norte-americanos, além da traição stalinista. Quem ajudou a República foram os cidadãos de todos esses países e de vários outros, a despeito de seus governos, e que lutaram e se sacrificaram na Espanha.
A derrota das forças republicanas na Guerra Civil Espanhola em 1939 foi a senha para Adolf Hitler invadir a Polônia e iniciar a Segunda Guerra Mundial. Por isso podemos dizer que a destruição de Guernica não foi uma tragédia apenas para seus habitantes, mas para toda a humanidade, e deve sempre ser lembrada, porque esquecê-la significa esquecer o que é o fascismo, e que ele deve ser combatido sem tréguas onde quer que esteja, como hoje no Brasil.