Como a América Latina e parte da Ásia, a África foi e é objeto de cobiça dos europeus e dos Estados Unidos.
O imperialismo moderno, capitalista, não foi o único que alcançou a África. Lembremos que o Império Turco-Otomano, que se consolidou no século XIII, expandiu-se territorialmente para a Europa e para o Oriente Médio, mas também para norte da África.
A Argélia foi dominada pelo império Otomano até o século XIX, quando, em 5 de julho de 1830, a França começou a ocupar o território argelino. E o interesse dos franceses pelo país, centro do Magreb (Al-Maghrib), deve-se ao fato de que se localiza em lugar estratégico para a política colonialista do império francês na África setentrional.
A Argélia, naquele momento, já era um importante centro de atividade comercial com a França e Europa, ou seja, o motivo principal do colonialismo francês na Argélia era comercial, embora o imperialismo francês justificasse sua ação sob a desculpa de que havia um grande contingente de franceses instalados no país africano.
A Argélia se transformou em uma colônia típica, com grande incentivo para migração e, portanto, ocupação de cidadãos franceses, aproveitando-se do clima favorável e de acesso facilitado.
O processo de ocupação não foi tranquilo, mas caracterizado pela violência, pelo massacre da população, inclusive com degola de tribos inteiras, tomadas de surpresa durante a noite, pela venda de mulheres, pelas mutilações, pelo roubo e confiscos de bens, devastações de cidades e aldeias.
Com a chegada dos franceses, o povo argelino ficou sem acesso às terras férteis, o que será um dos motivos para a mobilização, principalmente dos camponeses, para a resistência, inclusive com guerrilha.
O nacionalismo aparecerá por volta da Primeira Guerra Mundial, com a criação de diversas organizações, o que será combatido pelos francês do modo que sempre fizeram, perseguição violenta e proibição. Aliás, o próprio idioma foi proibido, o árabe foi proscrito, considerado um ‘idioma antinacional”.
Chegamos em 1945, com a matança de Sétif e de Guelma, uma ação de repressão de dimensões criminosas, quando foram mortos 45 mil argelinos, em apenas 20 dias.
No entanto, desde a Segunda Guerra até o início dos anos 1960, a França perderá diversas colônias importantes: Vietnã, Síria, Líbano, Marrocos, Tunísia e vários países da África negra.
Em particular, a independência da Tunísia e do Marrocos, conjugada pela ascensão do nacionalismo árabe propagado por Nasser do Egito, vão dar um novo impulsiono ao movimento nacionalista argelino.
No dia 1º de novembro de 1954, a Frente de Libertação Nacional (FLN) faz uma chamada para a insurreição armada, na cidade e no campo, o que vai ser logo na sequencia assumido pelo povo argelino, que considera ser essa uma guerra justa contra o opressor.
O colonialismo torna-se mais violento e cruel, adotando a tortura de forma generalizada, terrorismo de estado com o uso de guilhotina. Assim, entre 1954 e 1962, foram mortos entre 800 mil a 1 milhão de argelinos, sem contar os torturados e presos políticos.
Naquele momento, a Argélia tinha uma população de cerca de 8.800.000 habitantes, sendo que quase 90% composta por árabes e apenas 10% de colonos europeus, de maioria francesa. Essa minoria, no entanto, controlava todos os órgãos de estado e os meios de produção.
Um campesinato revoltado e uma classe operária emergente, em particular na capital, Argel, então relativamente desenvolvida mas com uma desigualdade social abissal, com uma periferia empobrecida, cheia de favelas, nas quais um contingente enorme de muçulmanos vivia na miséria.
A despeito do fascismo francês, de seus campos de concentração, dos massacres, e da superioridade do exército francês, deslocado para o país para conter a insurreição iniciada em 1954, o Exército de Libertação Nacional (ELN), braço armado da FLN, resistiu, junto com a população e conquistará a libertação em relação à França.
Em 1º de julho de 1962, um plebiscito registra o apoio de cerca de seis milhões à independência contra apenas 16 mil contras. Em 3 de julho, o governo revolucionário declara a independência da Argélia, encerrando uma guerra que durou 8 anos. E declarou sua independência inclusive contra a esquerda francesa que se colocava contra a libertação do país, com a desculpa de que a independência seria favorável ao imperialismo norte-americano.
É importante ressaltar que a luta dos argelinos, luta armada, com início em 1954 foi fundamental para impulsionar a luta por emancipação de outros países em relação ao imperialismo francês.
A Frente de Libertação Nacional chega ao poder e promove uma reforma agrária, coloca empresas sob autogestão dos trabalhadores, nacionaliza bancos e indústrias.
Em setembro de 1962, a Assembleia Nacional aprovou a primeira Constituição do país e, em 25 de setembro, foi proclamada a criação da República Democrática Popular da Argélia, sendo eleito primeiro presidente Ahmed Ben Bella.