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Dia de Hoje na História

22/11/1943: Líbano se torna oficialmente independente da França

Nos anos 1940, a população libanesa mostra que a luta popular decidida é um fator essencial para a derrota do imperialismo e defender a soberania de um país atrasado

Há 80 anos alcançava a independência um estado produto da presença do imperialismo no Oriente Médio e que atualmente, é a base de um importante movimento político que luta para afastar a esta presença da região.

Na segunda metade do século XIX, o imperialismo francês aproveitou os conflitos entre drusos e cristãos maronitas para se fazer presente em torno do Monte Líbano, famoso pelas suas florestas de cedro e a existência de uma comunidade cristã.

Em 1861, após uma expedição do exército francês do imperador Napoleão II, o decadente império otomano estabeleceu uma província agraciada com autonomia política. Esta província abrangia a região entorno do Monte Líbano, sem incluir a cidade portuária de Beirute. O território abrangia um terço do atual Líbano e era administrado por 12 conselheiros eleitos pelas suas comunidades religiosas, levando em conta as suas proporções populacionais: quatro maronitas, três drusos, dois cristãos ortodoxos e um para os católicos gregos, para os xiitas e para os sunitas. Uma estrutura administrativa que permaneceu subordinada aos turcos até a ocupação francesa em 1918 graças ao acordo com os ingleses.

As tropas francesas chegaram em Beirute em outubro de 1918, praticamente no mesmo período que o líder militar da revolta árabe contra os turcos, Emir Faissal, chegava em Damasco. Ele acreditava que o nacionalismo árabe seria respeitado com a reunião de todos os árabes em uma nação como prometido pelos britânicos em 1916.  Como suporte a esta demanda, convocou eleições para estabelecer um parlamento árabe com sede em Damasco e também convidou as lideranças das principais famílias incluindo a região do Libano e da Palestina. Contudo, como aponta Eugene Rogan no seu livro “Os árabes”, as autoridades de ocupação britânicas e francesas haviam obstruído toda ação política.

Logo o imperialismo mostrou como iria respeitar os acordos realizados. Em novembro de 1919 as tropas britânicas se retiraram da região. Em 1920 as tropas francesas avançaram em direção de Damasco por não reconhecer a declaração de independência que o Congresso Geral Sírio. Faissal foi derrubado em 14 de julho daquele ano.

Em 1918, o conselho de administração de Monte Libano iniciou negociação com a França para ser estabelecido um Grande Libano que incluísse as suas “fronteiras naturais” e reconhecendo a tutela do país europeu mas com uma grande autonomia.  Estas fronteiras seriam o litoral do Levante de Tripoli a Tiro, além de incluir o fértil Vale do Beca até as encostas ocidentais da Cordilheira Antilibano, o chamado Grande Líbano.

Durante a conferência de paz em Paris em 1919 foi apresentada a proposta deste Grande Líbano, contudo parte do conselho de administração do Monte Líbano passou a considerar a possibilidade de fazer parte do reino proposto por Faissal.  Rapidamente a França acabou com a dúvida, em 10 de julho de 1920, prendeu os sete dissidentes do conselho, julgados por um tribunal militar e exilados para a Córsega.

Em 31 de agosto de 1920, o Líbano foi estabelecido sob a tutela francesa. Um govenador francês chefiava um novo conselho de administração composto por 10 cristãos (6 maronitas, 3 gregos ortodoxos e um grego católico), 4 muçulmanos sunitas dois xiitas e um druso, ainda que a população que se reconhecia como cristã era provavelmente 58 % do total. Esta configuração passada por cima das aspirações nacionalista e estabelecia uma diferença confessional bem característica do imperialismo.

Em 1922, este conselho foi substituído por um conselho de representantes eleitos. Claro que como as eleições foram tudo, menos livres, contando com ataques a todos os candidatos que pudessem questionar a presença francesa no país, o que atingia especialmente os nacionalistas.

Praticamente todo o benefício do domínio francês tais como melhoria nas estradas, no sistema de saúde e escolas visava garantir os lucros dos capitalistas franceses. É verdade que os burgueses cristãos maronitas também se beneficiavam desde domínio. O jornalista Robert Fisk, no livro Pobre Nação, ressalta como causava incômodo o francês ter se tornado a língua ensinada das escolas e a moeda circulante era atrelada ao desvalorizado franco francês.

O imperialismo francês é afrontado com a revolta de 1925, promovida pelos drusos da Síria e do Líbano, o que foi debelado com extrema brutalidade, incluindo o bombardeio aéreo das cidades revoltadas ao atual estilo sionista em Gaza. Como forma de escamotear a dominação, foi estabelecido que uma constituição que estabelecia a República Libanesa e a bandeira tricolor francesa com uma árvore de cedro no centro.

Para facilitar o domínio e combater o nacionalismo, o nono artigo da constituição permita que as comunidades religiosas estabelecessem os direitos deveres dos seus componentes (por exemplo casamento, divórcio, adoção, herança), ao mesmo tempo reconhecia o controle francês nas áreas militar, de política de segurança e  das relações exteriores e o presidente era subordinado ao alto comissário francês. A farsa caiu por terra por ocasião das eleições de maio de 1932 quando o alto comissário Henri Ponsot suspendeu a constituição e dissolveu a câmara dos Deputados.

Os efeitos da Grande Depressão levaram a ruptura na relação entre os dirigentes franceses e os grupos dos cristãos maronistas. Em novembro de 1934 uma empresa francesa controlada pelo banco colonial recebeu o monopólio do cultivo e comercialização do tabaco e da fabricação de cigarros. Um setor econômico muito importante para a elite maronita. A reação foi greve nas áreas produtoras.

Em 1936, a França permitiu a eleição de um novo presidente, mas as greves continuaram por diversos motivos junto com a exigência da prometida independência. Uma questão que também surgia era a união com a Síria defendida pelos grupos sunitas. A possibilidade de união não interessava aos grupos maronitas. Esta tensão provocou o surgimento de organizações paramilitares e confrontos entre os grupos.  Mas todos exigiam a independência da França mesmo que aceitando um tratado que mantivesse certos privilégios, entretanto a assembleia francesa não quis ratificar a acordo proposto durante o governo da Frente Popular e cancelou qualquer negociação com o inicio da Segunda Guerra Mundial em 1939.

Para evitar que a Síria e o Líbano fossem usadas pelos nazistas as tropas britânicas com o apoio das forças francesas livres que reconheciam o general De Gaulle como comandante da região.

O representante francês, general Georges Catrux, anunciou que o mandato internacional iria terminar e seria concedida a independência aos dois países. Quem controlava militarmente a região eram os britânicos que também defendia a concessão da independência para poder se focar na luta contra os nazistas.

As diversas forças politicas libanesas começaram as negociações para definir como seria o governo depois da independência. Surgiu o chamado Pacto Nacional, um acordo tácito que estabelecia qual cargo da república libanesa cada comunidade religiosa ocuparia a fim de fosse garantida a unidade nacional além da proporção do parlamento na época foi estabelecido com uma leve vantagem para os cristãos.

Realizadas eleições parlamentares. O próximo passo foi a escolho pelos deputados do presidente da república. Sem interferência dos franceses Bishara Khoury foi escolhido como o primeiro presidente independente em 21 de setembro de 1943.

Em seguida o parlamento começou a revisar a constituição retirando todos os poderes e privilégios delegados à França pela Liga das Nações bem qualquer subordinação às autoridades francesas, estabelecendo o árabe com a única língua oficial e alterando a bandeira nacional para o modelo atual, duas faixas horizontais vermelhas separada por uma faixa branca mantido o cedro por cima.

Em uma busca para reverter o processo de independência, o general Catrux determinou a prisão do presidente Khoury e das principais lideranças politicas libanesas em 11 de novembro o que desencadeou violentas manifestações durante dias seguidos.

Em 22 de novembro de 1943, para evitar o agravamento da situação que desestabilizasse o Oriente Médio as tropas britânicas forçaram que os libaneses fossem libertados com a França reconhecendo a nova constituição e por consequência a Independência do Líbano. Somente em abril de 1946 todas as tropas estrangeiras se retiraram do país.

No momento da sua independência, as lideranças políticas libanesas aceitaram as fronteiras estabelecidas pela França em 1920 o que significava a separação da Síria e da Palestina. O surgimento do Estado sionista, no entanto, e a expulsão dos árabes palestinos impactaram fortemente o desenvolvimento do país, resultando em tensões internas até o início da guerra civil que durou de 1975 a 1990.

Esta guerra e a presença de organizações armadas palestinas serviu de justificativa para a intervenção sionista e de forças imperialistas francesa e estadunidense em 1982.

A ocupação estrangeira, em especial a israelense, no sul do Libano estimulou o surgimento de uma resistência popular na região. A primeira ação militar foi o ataque contra os quarteis da França e dos Estados Unidos em 1983. A ação que a esquerda pequeno burguesa brasileira definiria como terrorista precipitou a retirada da força imperialista do Libano.

Entretanto as forças sionistas permaneciam o que provocou o surgimento em 1985 de um novo movimento no Líbano. O Hesbolá, de ideologia religiosa xiita, que cresceu na sua oposição ao Estado Sionista. Uma organização política e militar que também garantia para a população local escolas, hospitais além de apoio na produção agrícola. Todavia o principal era sua disposição para confrontar Israel. Assim a partir de 1985 teve início um conflito permanente com diferente grau de intensidade.

O mais intenso foi em 2006 quando, por 34 dias, os dois lados se envolveram em combates terrestres, provocando aproximadamente 1.400 baixas israelenses e uma fragata sionista atingida por um míssil do Hesbolá. Foi a organização libanesa que saiu fortalecida do conflito visto que se mostrou a força politica com condições de defender o país das intervenções imperialistas. Com certeza um exemplo aos que lutam pelo fim da opressão do imperialismo no Mundo Árabe.

Passados 80 anos, o Líbano luta por superar as suas diferenças internas e garantir a sua soberania, reagindo as intervenções externas a fim de garantir uma vida melhor para todos os seus cidadãos. Esta parece ser a principal característica do estado libaneses, mesmo com as diferenças sociais, econômicas e religiosas não permitiu o estabelecimento de um regime de apartheid como ocorre ao sul das suas fronteiras.

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