Completam-se 99 anos do Putsch da Cervejaria, uma tentativa de golpe de Estado frustrada na Alemanha em 1923. Disputando a liderança da extrema-direita alemã, Hitler invadiu uma palestra de Gustav Von Khar na cervejaria Bürgerbräukeller e acendeu o estopim da tentativa prematura de tomada de poder pelos nazistas. O alvo da ocasião era o governo da Baviera, no sudeste do país.
Sem o apoio da burguesia de conjunto na ocasião, a tentativa foi controlada pela polícia, deixando um saldo de 20 mortos, 4 policiais e 16 nazistas. Hitler fugiu, mas foi preso dois dias depois, em 11/11/1923. Durante o julgamento, que ganhou enorme visibilidade na imprensa burguesa, o líder nazista teve palco privilegiado diante da população alemã. Condenado a 5 anos de prisão, Hitler cumpriu apenas 9 meses e durante esse período escreveu seu manifesto Mein Kampf, onde antecipou a estratégia que viria a triunfar 10 anos depois: “A democracia deve ser destruída por suas próprias forças”.
Apesar de contar com apoio de alguns setores da burguesia, a classe dominante alemã ainda não se havia decidido por apostar nos nazistas para combater a poderosa classe operária do país. Um importante exemplo de como a extrema-direita é limitada pela falta de apoio da burguesia. E, ao mesmo tempo, de como a chegada do fascismo ao poder passa necessariamente pelo aval do setor mais importante dos capitalistas. Quando a burguesia alemã precisou, entregou o governo de bandeja para os nazistas.
Outro ponto importante de se ter em conta na situação atual é que o fato da extrema-direita sofrer uma derrota isso não significa que ela está acabada. No Brasil pós-eleições de 2022, parte da esquerda tem tratado o bolsonarismo como um fenômeno do passado e apoiado a repressão do Estado burguês contra figuras ligadas a Bolsonaro, seus apoiadores nas redes sociais e até manifestantes insatisfeitos com a derrota eleitoral. A revolta contra o sistema político, sentimento especialmente vivo na população nos períodos de crise econômica, acaba sendo absorvida pela extrema-direita diante da confusão política da esquerda.
Ao se apresentar como fiadora do falido sistema burguês, a esquerda se apresenta para o povo como aliada dos seus inimigos. É importante lembrar que a repressão da burguesia contra a extrema-direita não costuma ser muito duradoura e, assim que preciso, a disputa interna da direita se transforma em lua de mel. Invariavelmente, todas as arbitrariedades do Estado se voltam contra a esquerda e os trabalhadores.