Em 25 de fevereiro de 1956, o primeiro-secretário Nikita Khrushchov surpreendeu os delegados do 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Em seu discurso no evento, ele responsabilizou Josef Stálin de ter promovido uma política sistemática de repressão brutal contra seus opositores políticos, detalhando essa política. Isso aconteceu três anos após a morte de Stálin.
Segundo Khrushchov, os opositores que conseguiam escapar dos fuzilamentos eram condenados a trabalhos forçados degradantes, julgados com base em confissões obtidas sob tortura.
Mas Khrushchov escondeu um detalhe um tanto importante: ele teve grande responsabilidade nesses crimes.
Já nos anos 1930, o burocrata ucraniano subira nos escalões do partido, assumindo o posto de seu líder em Moscou e membro do Comitê Central em 1934, na mesma época em que começaram os grandes expurgos contra os opositores de Stálin. O auge dos expurgos foram os famigerados Processos de Moscou, uma farsa montada por Stálin para varrer o partido de seus principais quadros, executando os principais responsáveis pela Revolução de 1917 e eliminando qualquer tipo de oposição à sua política contrarrevolucionária.
No meio do julgamento, em 1936, Khrushchov declarou seu apoio público aos crimes que, 20 anos depois, iria denunciar: “Todos que se alegram com os sucessos alcançados em nosso país, as vitórias do nosso partido liderado pelo grande Stálin, encontrarão apenas uma palavra adequada para os cães mercenários e fascistas do bando trotskista-zinovievista. Essa palavra é execução”, como relata seu biógrafo William Taubman (Khrushchev: The Man and His Era, 2003).
O líder do PCUS em Moscou acatou com grande entusiasmo as ordens vindas de cima, prendendo mais de 40 mil pessoas e pedindo a execução de mais de 8 mil, ultrapassando a cota fixada pela própria burocracia termidoriana, subindo na carreira partidária graças ao “bom trabalho”. Foi nomeado presidente do partido na Ucrânia, onde não deixou pedra sobre pedra nos órgãos partidários e no Exército Vermelho, comandando os expurgos.
Com a morte de Stálin, participou e venceu a disputa interna pela sucessão, tornando-se o líder do Partido Comunista. Culpando seu mestre pelas atrocidades cometidas anteriormente, nem por isso deixou de seguir e aprofundar a política stalinista.
Deu continuidade à teoria do socialismo em um só país. Essa teoria, ao invés de ser uma doutrina de proteção da revolução, foi, pelo contrário, a política de proteção da burocracia para evitar que as revoluções em outros países gerassem uma nova onda revolucionária na própria URSS que derrubasse a casta parasitária que detinha o poder desde a ascensão de Stálin.
Se o “Termidor” (como batizou Trótski) se alinhou às potências imperialistas “democráticas” na década de 1930 contra o nazismo (e com o próprio nazismo no pacto germano-soviético), Khrushchov continuou essa política de colaboração com os piores inimigos da classe operária ao estabelecer a teoria da “coexistência pacífica” com o imperialismo.
Isso significou um boicote a todas as revoluções de libertação nacional nos países atrasados, como na África, na Ásia e na América Latina e, não evitando as revoluções, impôs sua política reformista aos governos desses países, impedindo o desenvolvimento da revolução rumo ao socialismo.
Se Stálin, controlando a III Internacional (que, por sua vez, controlava a esmagadora maioria dos partidos comunistas do mundo nos anos 20 e 30), ordenou o boicote à revolução por parte dos PCs da Espanha e da França, por exemplo, seu sucessor fez o mesmo em Cuba e na Argélia, entre outros países.
Khrushchov deixou o cargo máximo do partido em 1964, sendo deposto e substituído por Leonid Brejnev – que também deu continuidade à política stalinista de derrotas em todos os lugares, suprimindo a Primavera de Praga e a revolução operária antiburocrática na Polônia no início dos anos 80.
O burocrata ucraniano faleceu em 11/09/1971 de um ataque cardíaco, após sete anos aposentado vivendo em seu apartamento em Moscou e em sua casa de campo na zona rural.