Há 45 anos falecia Chaya Pinkhasivna Lispector, ou Clarice Lispector, devido ao desenvolvimento de um câncer de ovário. Nascida numa aldeia ucraniana durante a Guerra Civil Russa, chegou ao Brasil ainda um bebê e se considerava de fato pernambucana, dizendo que “naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo”.
Apesar de sua família ter se estabelecido inicialmente em Maceió, após três anos foram para Recife, onde Clarice viveu até os 14 anos de idade. Escritora precoce, escreveu sua primeira peça teatral aos nove anos e aos dez enviou contos que havia escrito para uma página infantil que existia no jornal Diário de Pernambuco. A expressividade incomum de Clarice concorreu para que o jornal nem publicasse seus textos.
Depois disso se mudou para o Rio de Janeiro, onde estudou Direito por um tempo na UFRJ, motivada pelo objetivo de “reformar as penitenciárias”. Com o tempo, se afastou dessa área e passou a dedicar mais tempo à literatura. Começou a publicar seus contos enquanto trabalhava em escritórios, realizando entre outras atividades traduções de textos principalmente em inglês e francês. Foi desbravando as barreiras impostas às mulheres nos círculos intelectuais da então capital do país.
Chegando aos 20 anos começou a conquistar mais espaço, atuando como editora e repórter na Agência Nacional, o que permitiu que escrevesse e publicasse com maior frequência. Nesse período conviveu com figuras importantes da literatura brasileira como Vinícius de Moraes, Rachel de Queiroz e Cornélio Pena. Seu primeiro romance, “Perto do Coração Selvagem”, data de 1942, quando estava para completar 22 anos de idade. A obra foi recebida com entusiasmo no meio literário e o estilo de Clarice foi comparado a escritores como James Joyce, Virginia Woolf, Marcel Proust e Jean-Paul Sartre, apesar da escritora afirmar não ter tido contato com a obra deles até então.
Após repercussão de sua participação num congresso de bruxaria na Colômbia, onde seu conto “O ovo e a Galinha” traduzido para o espanhol fez sucesso, foi chamada por muitos de “a grande bruxa da literatura brasileira”. Sua obra é constituída por nove romances, nove coletâneas de contos, cinco livros infantis, entre outras publicações ao longo de sua produção literária. Grande parte da sua obra foi traduzida, em especial seus romances. Foram mais de 200 traduções em 10 idiomas.
Importante escritora da terceira fase do modernismo, ao lado de João Guimarães Rosa. Clarice Lispector abordou inúmeras cenas do cotidiano, a partir das quais tecia interessantes tramas psicológicas amarradas muitas vezes por episódios de epifania, onde os personagens subitamente compreendiam algo profundo em meio a situações aparentemente banais. Mergulhando nos sentimentos e pensamentos dos personagens traz os leitores para uma viagem na intimidade psicológica deles. Uma gigante da literatura.