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Trotskismo no Brasil

05/11/1981: morre o trotskista brasileiro Mário Pedrosa

Mario Pedrosa foi um militante proeminente na constituição das primeiras organizações trotskistas no país

Há 39 anos atrás. Em 5 de Novembro de 1981, aos 81 anos, morria o grande trotskista brasileiro Mário Pedrosa. Nascido em 25 de abril de 1900 em Timbaúba, Pernambuco, era filho Senador Federal Pedro de Cunha Pedrosa.

Aos 13 anos, por decisão de seus pais, foi estudar na Europa, tendo viajado sob a guarda do escritor paraibano José Vieira. Embora o projeto inicial fosse mandá-lo para a Maison Melo, colégio jesuíta em Gand, na Bélgica, problemas de saúde do escritor acabaram por levá-los diretamente para a Suíça. Matriculou-se então no Institut Quiche em Chateau de Vidy.

Em 1916, três anos depois, retornou ao Brasil. Em 1918, não conseguiu ingressar no curso de História Natural, no entanto, em virtude da pandemia da gripe espanhola, o governo federal decretou a dispensa de provas para todos os estudantes, possibilitando assim seu ingresso na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Nessa escola, entre os anos de 1920 e 1923, começou a se interessar pelas questões sociais e pelo marxismo, ligando-se ao professor Edgar de Castro Rebelo, juntamente com Lívio Xavier, entre outros.

Em 1924 foi nomeado fiscal interino do Imposto de Consumo em São Paulo e passou a assinar a coluna de crítica de livros no jornal Diário da Noite, o que o levou a frequentar os meios literários paulistas. Data dessa época sua amizade com Mário de Andrade.

Mário Pedrosa apesar de formado em Direito, exerceu a profissão de jornalista, e crítico de arte, tendo entrado jovem, aos 25 anos no Partido Comunista do Brasil (PCB) em 1925.

Seu combate pelo Trotskismo foi firme e tenaz, em 1927, foi enviado pelo PCB para Moscou para se dedicar ao aprofundamento do conhecimento e da militância na Escola Leninista Internacional situada na capital russa. No entanto adoeceu em Berlim, durante a viagem, tendo o agravamento de uma tuberculose intermitente. Em Berlim, na Alemanha se dedicou ao estudo de economia, filosofia e estética. Durante sua permanência na capital alemã, militou junto ao Partido Comunista local, chegando a participar de diversas lutas de rua contra os nazistas.

Neste momento político com as notícias das disputas entre Leon Trotsky e José Stalin, resolveu não seguir viagem. Aprofundando-se nos termos da disputa, pôs ao lado do primeiro e aderiu à oposição de Esquerda Internacional.

Retornou ao Brasil em 1929 para agrupar os dissidentes do PCB e criar a Oposição de Esquerda no Brasil.

Seu regresso coincidiu com a realização do III Congresso do PCB — iniciado em fins de dezembro quando se manifestaram as divergências dos círculos comunistas internacionais, que conduziriam à segunda grande cisão no partido em nível mundial.

Criticando a doutrina praticada no país, cujo conteúdo excessivamente nacionalista se chocava com a ideia da revolução internacional, esse grupo foi acusado por Astrojildo Pereira, secretário geral do PCB, de ter assumido uma posição semelhante à dos comunistas franceses e simpática às opiniões de Trotsky. Tais divergências acabaram por levar esses militantes ao rompimento com o partido, após o que formaram o Grupo Comunista Lênin.

Mario Pedrosa foi um militante proeminente na constituição das primeiras organizações trotskistas no país, foi fundador junto com Aristides Lobo e Plínio Gomes de Mello do Grupo Comunista Lenin (GCL) que publicava o jornal Luta de Classes, posteriormente com outros dissidentes do PCB e militantes sindicais fundaram a Liga Comunista Internacionalista ( LCI) e depois do Partido Operário- leninista (POL). Entre os militantes trotskistas destacam-se Lívio Xavier, o poeta surrealista francês Benjamim Péret, jornalista Fúlvio Abramo, os líderes sindicais gráficos Manoel Medeiros e João da Costa Pimenta.

A publicação em 1933, da obra de Leon Trotski, Revolução e Contra-revolução na Alemanha foi traduzida por Mario Pedrosa que cumpriu um papel relevante no esclarecimento da importância da luta antifascista no Brasil. Isso é importante de ser salientado, pois existe uma visão equivocada que o Trotskismo seria diversionista, na verdade a política adotada pelos militantes trotskistas era a constituição de uma frente única contra a direita, pressionando o PCB para aderir a essa luta conjunta. É importante assinalar, que a análise da luta pela Frente única é de extrema atualidade na luta contra os golpistas hoje no Brasil.

A criação da Frente única Antifascista ( FUA), integrada pelas organizações políticas e sindicais foi uma expressão dessa política que tinha Mario Pedrosa e os trotskistas como fomentadores.

“A Frente Única Antifascista começou a ser constituída no comício em memória do nono aniversário do assassinato de Giacomo Matteotti (socialista italiano assassinado a mando de Mussolini), realizado em junho 1933 na sede da União dos Trabalhadores Gráficos de São Paulo. Aí, Aristides Lobo, em nome da Liga Comunista, propôs a formação da FUA”

Essa luta antifascista teve um episódio marcante, que ficou conhecido como “A revoada dos Galinhas Verdes” , quando os militantes da FUA botaram para correr literalmente os integralistas, fascistas brasileiros seguidores de Plínio Salgado, em um comício na Praça da Sé (cidade de São Paulo) no dia 7 de outubro de 1934. Neste dia, Mario Pedrosa foi um dos principais organizadores, demonstrando que não somente era um intelectual engajado, mas um organizador militante.

Em 1938 se exilou  na França. Em setembro deste ano ocorreu o Congresso de fundação da IV Internacional e participou como único delegado da América Latina e foi eleito membro da direção da nova organização.

Em 1940, rompeu com Trotsky por conta da caracterização da URSS como Estado Operário. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, retornou ao Brasil e fundou o jornal Vanguarda Socialista. Neste período o stalinismo defendia aliança com a burguesia nacional, em diversos países em nome da ”democracia” e da ”Paz Mundial”.

No Brasil em 1945, o PCB estabeleceu uma política de aliança com Getúlio, expresso na palavra de ordem ”Constituinte com Getúlio”, posteriormente nos anos 50, os stalinistas adotaram a política sectária de igualar os getulistas com o imperialismo americano e combater Getúlio como eixo central. Enquanto os setores da classe média e grupos de socialistas democráticos tiveram uma evolução política confusa, flertando com um setor supostamente “liberal” da direita. Em nome do combate contra o ”autoritarismo” varguista participaram inicialmente da criação da UDN( depois afastaram-se ). Nas eleições de 1945, Mario Pedrosa e todos estes setores da esquerda democrática formaram um bloco ”pelas liberdades democráticas”  com a direita em torno do candidato da UDN, Eduardo Gomes.

Essas posições de combate das forças nacionalistas como inimigo principal no Brasil, colidem com as posições defendidas por Leon Trotsky em relação ao nacionalismo em países atrasados. Nos anos 30, Trotsky apoiou a estatização do Petróleo realizado pelo governo Cardenas no México. Uma síntese da questão foi dada pela conhecida afirmação de que em caso de guerra entre a Inglaterra, o pais opressor imperialista ” democrata” contra o Brasil do fascista Getúlio Vargas,o  correto é em fazer frente única com o nacionalista autoritário de um pais atrasado contra as forças ”democratas” de um pais imperialista. Isso porque o critério não era a ” democracia” versus o autoritarismo, mas adoção de um critério de classe, ou seja ficar ao lado do pais oprimido contra um pais imperialista.

Em 1948, ingressou no Partido Socialista Brasileiro, sendo dele expulso em 1956. Logo após o golpe militar de 1964, escreveu duas obras, A opção Brasileira e A Oposição Imperialista.

Uma das principais contribuições teóricas de Mario Pedrosa foi a tentativa de uma interpretação não esquemática da realidade brasileira, utilizando o método marxista de maneira criativa para entender o Brasil e as tarefas colocadas para os revolucionários, inclusive um entendimento do significado contraditório da formação nacional e da Revolução de 30. Estas análises são a  expressão  do esforço realizado por Pedrosa e os primeiros trotskistas brasileiros para conhecer e atuar no Brasil.

A partir do golpe de 64, Mario Pedrosa atuou de maneira corajosa, apesar da idade avançada, foi destacado opositor da ditadura militar, sendo obrigado a partir para o exílio. No final dos anos 70, ao retornar ao Brasil teve uma atuação marcante no movimento pela Anistia e no processo que levará a criação do PT. Pedrosa liderou a aproximação de intelectuais ilustres como Antonio Cândido, Sergio Buarque de Holanda, entre outros com o projeto de criação de um Partido dos Trabalhadores.

Em 1970, foi acusado pela ditadura de difamar o Brasil com denúncias de tortura no exterior. Refugiou-se na embaixada do Chile e pediu asilo. Com o golpe de 1973, pediu asilo na embaixada do México. Em seguida, exilou-se na França, de onde retornou em 1977, com a revogação da ordem de prisão. A célebre carta de Mario Pedrosa a Lula em 1978 (carta a um líder operário) teve impacto como elemento de legitimação política da importância da criação de um partido de trabalhadores pelos próprios trabalhadores.

Em 1980 participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, sendo o seu filiado número um.

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